O procurador-especial Robert Mueller, responsável pela investigação que concluiu ter havido interferência russa nas presidenciais norte-americanas de 2016 e que não excluiu a hipótese de o Presidente Donald Trump ter obstruído a Justiça, irá testemunhar perante dois comités do Congresso a 17 de julho.

A notícia surgiu depois de semanas de negociações entre o Partido Democrata, a equipa de investigação de Mueller e o Departamento da Justiça e foi anunciada na noite desta terça-feira.

“Os americanos exigiram ouvir diretamente do Conselho Especial para que possam entender aquilo que ele e a sua equipa examinaram, descobriram e determinaram sobre o ataque da Rússia à nossa democracia, a aceitação e uso dessa ajuda por parte da campanha Trump e a obstrução do Presidente Trump e dos seus próximos à investigação a esse ataque”, declararam o presidente do Comité Judicial da Câmara dos Representantes, o democrata Jerry Nadler, e o presidente do Comité de Informação da Câmara, Adam Schiff, do mesmo partido.

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Mueller deverá testemunhar perante os dois comités a 17 de julho, em sessões que serão públicas e transmitidas pelas televisões. A decisão é surpreendente se tivermos em conta que Mueller estava relutante em testemunhar perante o Congresso. Apesar de referir várias vezes no seu relatório — e uma vez mais na conferência de imprensa que deu quando cessou funções — que “é necessário um outro tipo de processo que não o judicial para acusar formalmente o Presidente em funções de ter cometido alguma irregularidade”, abrindo assim a porta a um processo de impeachment, Mueller também já tinha deixado claro que não queria ser usado nesse processo. “Espero que esta seja a última vez que falo sobre este assunto”, disse na mesma conferência de imprensa.

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“Ele estava e está profundamente relutante em vir testemunhar, mas apesar disso acabou por aceitar respeitar a intimação”, declarou Schiff à CNN.

O anúncio provocou as reações esperadas dos dois lados da barricada. Os democratas, pela voz da líder da Câmara Nancy Pelosi, disseram-se “satisfeitos” pelo facto de “o povo americano ir ouvir diretamente o procurador-especial Mueller”, de acordo com um comunicado citado pelo Washington Post. “O povo americano merece respostas”, disse Pelosi.

Já o Presidente limitou-se a reagir através de um simples tweet que denuncia “Assédio Presidencial!”.

O testemunho público de Mueller é uma peça-chave fulcral para o Partido Democrata se quiser vir a iniciar um processo de impeachment para afastar o Presidente. Contudo, este não tem sido um tema consensual dentro do partido, com algumas figuras a pedir abertamente o início do processo enquanto outras, como Pelosi, a manterem-se mais cautelosas. A Constituição norte-americana prevê que um Presidente possa ser destituído se tiver cometido “traição, suborno ou outro tipo de crimes e delitos maiores”.

O relatório Mueller, por seu lado, não acusa formalmente Donald Trump de nenhum crime, mas deixa claro que também não o iliba. “Embora este relatório não conclua que o Presidente cometeu um crime, também não o exonera”, pode ler-se no documento.