E quando parecia que seria impossível melhorar um SUV como o Velar, eis que a Range Rover recorreu à Special Vehicles Operations (SVO), departamento do grupo Jaguar Land Rover especializado em produzir veículos sobre encomenda, bem como execuções especiais, para o tornar numa proposta do outro mundo. A SVO é uma espécie de um “cantinho dos artistas”, à semelhança da AMG para a Mercedes, só que não se limita apenas a versões mais potentes e desportivas, concebendo igualmente versões em que o luxo é a palavra-chave.

O novo Velar SVAutobiography Dynamic assume-se como o mais recente veículo da SVO, divisão que já tinha concebido o Jaguar XE SV Project 8, a berlina desportiva mais rápida do mundo, com o recorde na pista alemã de Nürburgring. Mas para o Velar a SVO não pretendeu produzir uma versão para brilhar apenas em asfalto e idealmente em pista, visando manter intactas as características que permitem a este Range Rover ser dos mais respeitados SUV a circular fora de estrada, para agradar a aventureiros e caçadores, mas simultaneamente torná-lo dos mais rápidos (e divertidos) em estrada.

Na SVO só se mexe onde é necessário

O trabalho de Gerry McGovern, o responsável pelo design de todos os veículos da Land Rover, é de tal forma respeitado que não havia muito a fazer para melhorar o Velar. Ainda assim, para o optimizar, tornando-o mais desportivo e reforçando-lhe a personalidade, para ir ao encontro de um cliente (ainda) mais exigente, os estilistas da SVO apostaram em mexer apenas onde era necessário.

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A pintura mate faz sobressair as formas do SUV – estando disponível em cores específicas como a Satin Byron Blue, mas igualmente em Corris Grey, Santorini Black, Firenze Red, Fugi White e Indus Silver –, mas são as aplicações na zona inferior da carroçaria que o fazem parecer mais musculado, para o que também contribui uma menor altura ao solo. O para-choques frontal é distinto, com entradas de ar mais generosas para refrigerar a mecânica, substancialmente mais potente, mas igualmente para lhe conferir maior agressividade. Mas nem tudo é apenas uma questão de estilo, uma vez que sob o para-choques surge um lábio destinado a colar a frente ao solo a alta velocidade, importante num SUV que ultrapassa 270 km/h.

Na traseira também há diferenças, com os designers da casa a conceberem um para-choques capaz de alojar as quatro saídas de escape, que estão em posição tão baixa quanto possível de forma a não beliscar o ângulo de saída dos obstáculos em TT, da mesma forma como o lábio frontal foi “esticado”, mas sem limitar o ângulo de ataque. Também a necessitade de manter os sensores de estacionamento à altura necessária mexeu com a colocação dos escapes, com a SVO a determinar que se a estética é prioritária, não deve ultrapassar a função. As belas jantes forjadas, para serem mais resistentes e leves, com 21 e 22 polegadas, contribuem igualmente para a elegância do modelo.

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Por dentro há menos alterações, dado que não era fácil melhorar o Velar. Isto não impediu o recurso a peles Windsor de ainda melhor quantidade para revestir bancos, tablier e painéis de portas. Há quatro cores disponíveis para o habitáculo (Ebony, Vintage Tan, Cyrrus e Pimento), podendo ser montadas molduras em fibra de carbono ou em aço – nada de plásticos –, para adequar o Velar ao gosto de cada um.

Na mecânica é que está o segredo

O objectivo do Velar SVAutobiography Dynamic é superar os super SUV do mercado, do Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio (510 cv) ao Porsche Cayenne Turbo (550 cv), passando pelo BMW X5 M50 (530 cv) e Mercedes-AMG GLE 53 (435 cv). Daí que recorra ao motor 5.0 V8 soprado não por um turbocompressor, mas sim por um compressor volumétrico, que anula o atraso na resposta do turbo e faz maravilhas ao “cantar” da mecânica, não interrompendo a linha de escape.

O V8 é o mesmo a que recorre o Jaguar F-Pace SVR, fornecendo 550 cv, sendo que esta unidade é capaz de atingir 575 cv, como acontece no Range Rover Sport SVR, com a marca britânica a pretender aqui respeitar (e arrumar) os diferentes elementos da gama. Mas com a capacidade de atingir 100 km/h em apenas 4,5 segundos e uma velocidade máxima de 274 km/h, não é fácil acusar o Velar SVAutobiography Dynamic de falta de dinamismo.

Além de montar um motor mais potente no Velar, a SVO introduziu também importantes alterações no chassi, para o tornar mais eficaz. Assim, as suspensões pneumáticas reguláveis são agora mais rijas, montando barras estabilizadoras mais grossas e travões de maior diâmetro à frente (395 mm de diâmetro) e atrás (396 mm), mas maxilas dianteiras mais generosas e outra coisa não seria de esperar quando é necessário parar na mínima distância um modelo com 2.160 kg a viajar a 274 km/h.

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Para que o comportamento se tornasse mais eficaz e divertido, a distribuição da força do motor entre o eixo dianteiro e o traseiro foi modificada, com o Velar depois de receber a atenção dos técnicos da SVO a colocar 60% da potência atrás e apenas 40% à frente. Como se isto não bastasse, o diferencial traseiro, o e-Diff, pode colocar entre 50% e 100% da potência em cada uma das rodas posteriores, em busca de mais tracção ou para modular o comportamento.

Como é ao volante?

Começámos por conduzir o Velar SVAutobiography Dynamic nos arredores de Barcelona, onde foi tão fácil apercebermo-nos que o conforto de rolamento não foi beliscado, como apreciar o maior requinte interior desta versão SVO do SUV britânico. Se o design do Velar já impressiona, este eleva ainda mais a fasquia.

À medida que nos aproximávamos dos Pirenéus, as curvas levaram-nos a adoptar uma condução mais desportiva, o que fez sobressair o roncar do V8, mas igualmente a facilidade com que o Velar devora as rectas. A capacidade de travagem é tão impressionante quanto a de aceleração, com as suspensões pneumáticas, especialmente se adoptarmos o modo de condução mais desportivo, a garantirem que o Range Rover é capaz de curvar muito depressa e praticamente sem se inclinar, como se tratasse de um superdesportivo. É claro que se sente o peso, mas muito menos do que seria de pressupor, num veículo deste tipo.

Depois do asfalto veio a terra, para vermos até que ponto o carácter mais desportivo do tratamento da SVO tinha limitado a capacidade deste Velar encaixar alguns maus tratos. Em estradões de terra, o conforto é total e a poeira (em muita quantidade) fica lá fora. Mas o percurso que o construtor inglês tinha preparado incluía umas descidas de arrepiar e umas subidas nada recomendáveis, especialmente porque sabíamos que tínhamos montados no “nosso” Velar uns pneus de estrada numas imensas jantes de 22”. Engolindo em seco aqui ou ali e prometendo a nós próprios que, em caso de furo, só parávamos no restaurante, o Velar SVAutobiography Dynamic lidou com todas as adversidades sem pestanejar. Já nós…