Patrick Burleigh nasceu com uma rara mutação genética hereditária chamada testotoxicose, ou puberdade precoce. Aos três anos, já tinha os níveis de testosterona de um adolescente. Tem hoje 34 anos, tornou-se escritor e ator, é casado e pai de um rapaz. Sim, é uma história de sucesso. Mas, até chegar aqui, o norte-americano sofreu preconceitos, foi expulso da escola, consumiu drogas e até esteve preso.

A história é contada pelo portal brasileiro G1. O número exato de pessoas afetadas pela condição de Burleigh é desconhecido, mas refere o mesmo órgão de comunicação social que são apenas cerca de mil em todo o mundo. Patrick herdou a condição do pai. Também o avô e bisavô sofreram de puberdade precoce.

“Não me encaixava na escola e no mundo em geral. Isso marcou a minha infância desde muito cedo”, conta Patrick Burleigh. Aos dois anos, tinha já pelos púbicos e em criança parecia um adolescente.

Apesar de ser uma criança, Patrick Burleigh (ao centro) pareceu sempre bastante mais velho durante a infância

Burleigh foi uma das primeiras crianças de sempre a receber tratamento para a testoxicose. O processo foi longo e o rapaz tinha de tomar todos os dias vários comprimidos e injeções.

Durante o ensino básico, foi sempre uma criança problemática. “Comecei a fumar aos 9 anos, a fazer graffitis, a fumar marijuana. Tornou-se uma bola de neve”, conta. Era agressivo e comportava-se como uma criança e um adolescente ao mesmo tempo. Foram várias as brigas em que se envolveu na escola.

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Ainda durante a pre-adolescência, envolveu-se com uma rapariga com ligação a drogas e consumiu LSD. Na escola, fez uma colega consumir o mesmo alucinogénio e foi preso. Foi expulso da escola e proibido de estudar em qualquer outra instituição da região. Os pais mandaram-no então para uma escola militar a milhares de quilómetros de distância de casa. Também foi expulso deste estabelecimento.

Aos 14 anos, Patrick mudou-se novamente para uma escola perto de casa e começou a sentir-se mais confortável. Dedicou-se então aos estudos e ao desporto e decidiu ir para a faculdade.

Deixei de me destacar. Isso, e também o facto de as minhas hormonas terem estabilizado e finalmente começar a ter a aparência certa para a minha idade, fez-me perceber que não queria mais levar aquela vida, que não era feliz assim. De certa forma, passei a lidar com o meu trauma e vergonha”, relembra o agora escritor e ator.

“Criei uma nova identidade para mim”, acrescenta Patrick Burleigh. Depois dos estudos, escolheu o caminho da escrita. E foi nos livros que encontrou refúgio, mas também uma forma de falar sobre o passado — e aceitá-lo. “Fiquei surpreendido. As pessoas reagiam com compaixão, demonstravam interesse e foi uma catarse falar sobre o assunto. Foi como um processo de cura. Foi bom parar de me esconder”, revela. Participou também em filmes como “Ping-Pong Diplomacy” e “Homem-formiga e a Vespa”.

Patrick descobriu entretanto que o bisavô — que sofreu da mesma mutação — esteve na II Guerra Mundial com apenas 13 anos. Disse que tinha 20 anos e foi aceite no exército. Também o avô do escritor se fez passar por mais velho e entrou para a guarda fronteiriça do Canadá com apenas 12 anos. Já o filho de Burleigh, agora com quatro anos, não herdou a testotoxicose.