O desenvolvimento do futebol, ao nível teórico, tático e subjetivo, levou à maior previsibilidade dos jogos. A superioridade de uma ou outra equipa, os milhões que uma equipa tem a mais em relação a outra e a experiência competitiva que ajuda nas grandes decisões e que só se adquire quando se está frequentemente nessas mesmas grandes decisões, provocando um ciclo vicioso muito fechado, tornam difíceis, raras e assinaláveis as reviravoltas inesperadas e as vitórias que lembram David e Golias.

Talvez por isso a edição da Liga dos Campeões que terminou com a vitória do Liverpool frente ao Tottenham na final de Madrid — e que teve o Ajax a eliminar o Real Madrid e as duas equipas inglesas a baterem Barcelona e os holandeses contra todas as expectativas e depois de resultados negativos — tenha sido considerada uma das melhores das últimas décadas. Há muito que não se assistia a eliminatórias de coração acelerado e voltas e reviravoltas no argumento até aos instantes finais. Este sábado, na Copa América, o futebol sul-americano mostrou que decidiu respeitar a corrente surpreendente que assolou a Europa esta temporada.

No último jogo da fase de grupos, Uruguai e Chile encontraram-se já praticamente apurados e sabiam que uma vitória, mais do que três pontos, significava a ida pelo caminho teoricamente mais simples na fase seguinte: de um lado, estava a Colômbia de Carlos Queiroz que ganhou todos os jogos da fase de grupos e não sofreu qualquer golo; do outro, estava o Peru que empatou sem golos com a Venezuela e foi goleado pelo Brasil. O Uruguai ganhou e seguiu pela rota mais facilitada. O Chile perdeu e não fugiu a um dos principais candidatos à vitória final.

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A primeira surpresa apareceu com a eliminação da Colômbia nas grandes penalidades depois de um nulo no fim do tempo regulamentar. A segunda, tal qual papel químico, apareceu com a eliminação do Uruguai nas grandes penalidades depois de um nulo no fim do tempo regulamentar. Suárez falhou logo o primeiro penálti e a seleção peruana, onde Carrillo e o ex-V. Setúbal Advíncula foram titulares, acertou os cinco remates.

A Copa América vai ter uma final antecipada nas meias-finais, entre Brasil e Argentina, e um encontro difícil de prever entre o bicampeão Chile e o improvável Peru. A Colômbia não capitalizou a fase de grupos perfeita, o Chile mostrou que não existem vencedores antes do apito final, o Uruguai falhou com o penálti de Suárez e o Peru não deixou que uma goleada o definisse. O futebol está longe de ser uma crónica de um vencedor anunciado.