Os Estados Unidos querem que Portugal pressione a União Europeia a adotar ações assertivas que levem à mudança do regime na Venezuela, disse à agência Lusa a responsável da Administração Trump para a Venezuela e Cuba.

Presente em Portugal para reuniões com o Governo, a vice-secretária Adjunta do Departamento de Estado norte-americano, Carrie Filipetti, defendeu que “Portugal tem um papel natural de liderança nesta matéria” e que o seu papel para a transição política da Venezuela “não pode ser subestimado”.

“Queremos que Portugal mantenha a liderança que já tem e encoraje a União Europeia para que tome as ações necessárias para a transição” da liderança de Nicolas Maduro para Juan Guaidó. Segundo Carrie Filipetti, Portugal não só tem uma das maiores comunidades estrangeiras da Venezuela, como tem sido muito ativo no apoio para uma transição democrática.

Os portugueses “reconheceram muito cedo o Presidente interino [Juan] Guaidó e, na nossa perspetiva, Portugal é um dos atores centrais na União Europeia” para “encorajar outros países da Europa para se chegarem à frente e darem os passos necessários”, explicou em entrevista à agência Lusa.

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Juan Guaidó é o atual presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, tendo-se autoproclamado Presidente interino daquele país em 23 de janeiro passado. Guaidó foi reconhecido quase de imediato como “Presidente interino” por cerca de 50 países, entre os quais se contam os Estados Unidos e vários europeus, como Portugal, mas Nicolás Maduro rejeitou a sua declaração e afirmou continuar a ser Presidente.

Nessa altura, o regime de Maduro, apoiado pela China, pela Rússia, por Cuba, entre outros Estados, cortou definitivamente relações com os Estados Unidos. “O nosso objetivo número um é facilitar eleições livres e justas na Venezuela. Estamos comprometidos com isso há já algum tempo e vamos continuar até vermos essa transição”, disse.

Embora a prioridade seja negociar pacificamente essa transição, a possibilidade de realizar uma intervenção militar na Venezuela para conseguir essa transição — que o Presidente Donald Trump já admitiu algumas vezes — continua em cima da mesa.

“Não retirámos nenhuma opção de cima da mesa”, admitiu Carrie Filipetti. “Fomos muito claros [quando dissemos] que tudo está em cima da mesa se for necessário, mas, neste momento, estamos focados em promover um acordo pacífico e negociado”, sublinhou.

Segundo a responsável, a questão da intervenção militar é um ponto interessante dos acontecimentos, já que, segundo afirmou, já existe uma presença militar de outro país na Venezuela. “Todos avisaram os Estados Unidos para não avançarem para uma intervenção militar e, no entanto, tem estado a acontecer uma intervenção militar na Venezuela há anos”: Cuba.

“Os cubanos estão presentes na Venezuela, ocupam cargos importantes na guarda de honra da Presidência, protegendo a segurança física do ex-Presidente ilegitimo Maduro e estão nos serviços de informações”, referiu, adiantando que o ex-líder do Sebin (Serviço bolivariano de inteligência nacional, serviços secretos), Cristopher Figuera, está nos Estados Unidos “a fornecer informação muito importante e útil sobre os acordos do regime de Maduro e em particular sobre o papel que os cubanos tiveram na sua continuação no poder”.

De uma forma ou de outra, a responsável da Administração norte-americana para aqueles dois países da América Latina garante que os Estados Unidos continuam a apoiar Juan Guaidó.

“Continuamos a apoiar o Presidente interino, continuamos a apoiar a Assembleia Nacional democraticamente eleita”, afirmou, sublinhando que o que Juan Guaidó está a fazer “não é um golpe de Estado, é um retomar da democracia à Venezuela”

Os acontecimentos de 30 de abril — quando o Presidente interino acordou a Venezuela com os militares na rua para conseguir “o fim definitivo da usurpação” do governo e chamou às ruas todos os venezuelanos para exigirem a saída de Nicolas Maduro — foram, para Carrie Filipetti, “profundos e significativos”.

“Muitos países interpretaram mal, dizendo que o Presidente interino não acabou em Miraflores [o palácio de Miraflores é a sede da Presidência da Venezuela], portanto foi um falhanço, mas nós vemos a situação de outra forma”, disse.

“O que nós vimos em 30 de abril foi toda a liderança de Maduro — dos seus serviços de informações, dos seus serviços de segurança, todos – a negociarem para o tirarem do poder”, defendeu. “Guaidó pode não ter acabado em Miraflores no final desse dia, mas demonstrou que Maduro não tem ninguém em quem possa confiar. E achamos que isso foi um feito significativo”, concluiu.