A 25 de setembro de 1954 um advogado chileno de nome Jenaro Gajardo Vera decidiu ir a um notário e registar o satélite da Terra em seu nome. A história do sexto de nove irmãos que cantava ópera, amava telescópios e casou três vezes — com uma chilena, uma espanhola e uma suíça — é contada pelo espanhol El Mundo.

O pequeno advogado de Talca, que era amigo de Salvador Allende — médico e político social-democrata chileno que governou o seu país entre 1970 e 1973 — achava-se poeta, pintor e músico também. Tanto que chegou a recitar em casa de Pablo Neruda. Ao fazer o registo da Lua, o chileno achou que estava a fazer “um ato poético” que lhe daria direito a “uma possível intervenção” na seleção dos futuros habitantes da Lua, de maneira a criar um mundo mais pacífico.

JenaroGajardo Vera fez o registo numa altura em que não existia legislação sobre apropriação do espaço, uma ação que lhe custou apenas 42 pesos (o que atualmente equivale a sensivelmente 5 cêntimos).

O chileno que registou a lua em seu nome

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“Jenaro Gajardo Vera, advogado, é dono, desde antes de 1857, unindo a sua posse à dos seus antecessores, da estrela, o único satélite da Terra, com um diâmetro de 3.475,00 quilómetros, chamado LUA, e cujas fronteiras por ser esferoidal são: Norte, Sul, Leste e Oeste, espaço sideral.O seu endereço é 1ª Rua 1270, Talca, e seu estado civil é solteiro”, lê-se na nota de registo disponibilizada pelo El Mundo.

O assunto, como seria de esperar, fez correr alguma tinta na imprensa chilena da época. Segundo a história, as Finanças chilenas terão tentado, a certa altura, tributar a Lua, já que o advogado não a tinha declarado, incorrendo por isso no crime de evasão fiscal. A isso Gajardo Vera terá respondido algo como “Avaliem primeiro a Lua e depois falamos”. Os inspetores não terão regressado.

Outra parte do relato, agora não confirmada, é a que dá conta que em meados de 1969, Richard Nixon terá pedido pessoalmente, por carta, permissão ao advogado chileno para que a Apolo 11 e os astronautas Aldrin, Collins e Armstrong alunassem, isto é, pousassem na lua — uma solicitação consentida pelo advogado, devido à cortesia do presidente norte-americano

Jenaro Gajardo Vera morreu em 1998, aos 79 anos de idade, não sem antes escrever no testamento que a lua ficaria entregue ao seu povo. Hoje a Lua, também com a sua permissão, pertence a uma centena de países que assinaram um acordo de que nenhum, individualmente, tomaria posse do nosso satélite e de que nunca lá instalariam armas de destruição massiva.