O cinema e a arte contemporânea vão andar de mãos dadas esta semana no Porto graças à 2ª edição da Summer School on Art & Cinema, uma iniciativa da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa que até sábado junta estudantes, artistas e realizadores em exposições, instalações, exibições de filmes e conversas. “O programa é aberto a toda a comunidade e reflete diferentes formas de entender o cinema e as imagens em movimento”, começa por explicar Nuno Crespo, responsável pelo evento e curador da exposição de Julião Sarmento que inaugura esta terça-feira, pelas 19h30, na Escola das Artes, na Foz.

“Film Works” é o nome da mostra individual do artista plástico e pintor português onde o seu trabalho mais cinéfilo é mostrado pela primeira vez de uma forma autónoma e isolada. “Serão mostradas dez obras de diferentes épocas — desde 1, 2, 3 (1975) até O Fim do Mundo (2015) –, expostas em diferentes formatos, formando um puzzle de referências teóricas, literárias, cinematográficas e reflexões sobre atos e gestos quotidianos. A concentração destes trabalhos nesta exposição individual permite olhar a obra de Julião Sarmento a partir de uma série de obsessões, como a repetição enquanto modo de desconstruir a normalização das imagens e a reflexão sobre o lugar da linguagem e das suas convenções”, pode ler-se na apresentação. A exposição está patente até 11 de outubro e contará hoje com a uma conversa entre o artista e o curador, Nuno Crespo, que destaca ao Observador a convergência entre a arte contemporânea e o cinema.

“Há um deslocamento onde, por um lado, os cineastas mostram o seu trabalho num contexto expositivo, fora de uma sala de cinema, e por outro lado, artistas que apostam na imagem em movimento. Nesta edição há filmes que serão exibidos isoladamente, sem um contexto expositivo, sendo o único elemento protagonista o que resultará certamente numa experiência diferente.”

O programa da Summer School “inclui cinco artistas com origens estéticas muito diferentes”, entre eles dois nomes internacionais como o cineasta egípcio Atom Egoyan, que amanhã estará pela primeira vez no Porto. No Teatro Municipal Rivoli o realizador apresentará o filme “Futuro Radioso”, já presente no circuito comercial, e participará num debate no qual, juntamente com Julião Sarmento e Guilherme Blanc, irá discutir “a natureza transdisciplinar do cinema contemporâneo a partir da sua experiência artística”, refletindo sobre os novos desafios impostos atualmente no cinema de autor.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Outro nome internacional é Todd Solondz, que no dia 5 de julho leva ao Cinema Passos Manuel “A Vida em Tempo de Guerra”, numa parceria com o Festival Curtas de Vila do Conde. O cineasta premiado em festivais de cinema como Sundance, Berlim, Fantasporto e Veneza irá protagonizar uma conversa com Daniel Ribas, programador cultural do evento, no final da exibição. Para Daniel Ribas este é “um momento único de partilha entre artistas, realizadores e estudantes, numa semana intensa, mas também descontraída e informal”, que promove um discurso critico sobre o mundo a partir do olhar cinematográfico.

“Admirável Mundo Novo” é o filme exibido no dia 4 de julho, na Casa da Artes, da autoria da artista brasileira Ana Vaz. “Nesta obra ela explora conceitos como a biodiversidade ou a ecologia, numa reflexão sobre a floresta Amazónia ou o aquecimento global”, destaca Nuno Crespo.

A fechar esta 2ª edição da Summer School está a sessão “K7 Fantasma” com filmes de cinema experimental projetados em 16 mm da dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva. Nuno Crespo e os investigadores Sabeth Buchmann e Rainer Bellembaum vão protagonizar a conversa posterior no Auditório da Fundação de Serralves.

Na semana inteiramente dedicada ao cinema contemporâneo todas as sessões são gratuitas, limitadas aos lugares disponíveis e com inicio às 21h30. Nuno Crespo, diretor da Escola das Artes, acredita que o facto de o evento se distribuir em cinco salas da cidade “desfaz um preconceito existente em relação a iniciativas desenvolvidas em contexto académico”. “As pessoas têm a ideia que os eventos universitários são fechados ou amadores, aqui procura-se que envolva toda a cidade e tenha ressonância.”