O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu esta quarta-feira uma “investigação independente” sobre as circunstâncias do ataque aéreo que matou 44 migrantes na Líbia.

O ataque aéreo que terça-feira atingiu um centro para migrantes nos arredores da capital líbia, Tripoli, matou pelo menos 44 pessoas e feriu mais de 130, segundo um novo balanço divulgado esta quarta-feira pela ONU, e suscitou a condenação internacional.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, disse esta quarta-feira que para Guterres é fundamental “assegurar que os responsáveis (do ataque) sejam levados perante a justiça”, realçando que a investigação deve ser independente.

O Governo com sede em Tripoli, horas antes, já pedira à ONU que investigue este ataque que, segundo as agências internacionais, pode vir a desencadear uma maior pressão do Ocidente em relação a Khalifa Haftar.

O enviado da ONU à Líbia, Ghassan Salame, declarou que este ataque aéreo pode constituir um “crime de guerra”, pedindo à comunidade internacional para o condenar.

Nas últimas horas, novas informações sobre o ataque ocorrido na terça-feira à noite têm circulado na Internet e têm sido divulgadas pelas agências internacionais.

O ataque atingiu uma oficina de armamento e de veículos e uma espécie de hangar que integra o centro de detenção de Tajoura, nos arredores de Tripoli, onde estavam mais de 100 migrantes, a maioria oriundos do Sudão e de Marrocos, relataram dois migrantes em declarações à agência norte-americana Associated Press (AP).

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O ataque está a ser condenado a nível internacional e a suscitar preocupações sobre a política da União Europeia (UE) de estabelecer parcerias com as milícias líbias para evitar que os migrantes atravessem o Mediterrâneo.

A Líbia tornou-se nos últimos anos uma placa giratória para centenas de milhares de migrantes que tentam alcançar a Europa através do Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes foram detidos pela guarda costeira da Líbia, que conta com financiamento e treinamento europeus, quando tentavam atravessar o Mediterrâneo em direção à Europa.

Os centros de detenção são descritos regularmente como espaços onde a comida e outros bens de primeira necessidade são limitados e escassos.

A Líbia tornou-se nos últimos anos uma placa giratória para centenas de milhares de migrantes que tentam alcançar a Europa através do Mediterrâneo.

Mas, o país, imerso num caos político e securitário desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011 e devido a divisões e lutas internas de influência entre milícias e tribos, tem sido um terreno fértil para as redes de tráfico ilegal de migrantes e de situações de sequestro, tortura e violações em centros de detenção sobrelotados e precários.

O Governo de acordo nacional líbio, estabelecido em 2015 na capital líbia e reconhecido pela comunidade internacional (incluindo pelas Nações Unidas), está a atribuir o ataque ao exército nacional líbio liderado pelo marechal Khalifa Haftar, o homem forte da fação que controla o leste da Líbia e que lançou em abril uma ofensiva contra Tripoli.