A justiça italiana recusou esta quarta-feira assinar a ordem de expulsão do país da capitã do navio humanitário “Sea Watch 3”, a alemã Carola Rackete, emitida pelas autoridades italianas e defendida pelo ministro do Interior italiano, Matteo Salvini.

A informação foi avançada pela porta-voz italiana da Sea Watch (organização não-governamental alemã responsável pelo navio humanitário de resgate de migrantes com o mesmo nome), Giorgia Linardi, numa conferência de imprensa em Roma.

A Procuradoria de Agrigento (Sicília, Itália) tomou esta decisão um dia depois de uma juíza daquela jurisdição (Alessandra Vela) ter decidido libertar Carola Rackete, que se encontrava em prisão domiciliária desde sábado depois de ter atracado, sem autorização, na ilha italiana de Lampedusa para realizar o desembarque de 40 migrantes que tinham sido resgatados há vários dias ao largo da Líbia.

Capitã do navio humanitário “Sea Watch 3” foi libertada

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Giorgia Linardi explicou que a Procuradoria de Agrigento não irá deliberar sobre a ordem de expulsão pelo menos até 09 de julho, quando a capitã do “Sea Watch 3” deverá ser ouvida pelas autoridades judiciais italianas no âmbito da investigação aberta por suspeita de ajuda à imigração ilegal.

A mesma porta-voz confirmou que Carola Rackete, de 31 anos, foi transportada para um “lugar seguro” para protegê-la da atenção dos ‘media’, mas sem falar de eventuais ameaças.

Na manhã desta quarta-feira o porta-voz da organização não-governamental (ONG) Sea Watch em Berlim, Ruben Neugebauer, referiu que a jovem capitã tinha sido transportada para um “lugar seguro” depois de ter recebido “algumas ameaças”. Ruben Neugebauer escusou-se então a confirmar se Carola Rackete ainda se encontrava em Itália.

Esta informação seria confirmada por Giorgia Linardi, que acrescentou, no entanto, que Carola Rackete é “uma mulher livre” e como tal não é garantido que permaneça no país. “Carola precisa de ter o seu tempo depois de quatro dias de detenção, compreender tudo o que aconteceu e também enfrentar duas investigações”, acrescentou a porta-voz italiana.

A decisão de terça-feira da juíza encarregue pelo inquérito preliminar em Agrigento foi fortemente criticada por Salvini, que acusou uma parte da magistratura italiana de “fazer política” e considerou uma “vergonha” a deliberação.

“Violou as leis. Arriscou a vida de alguns militares e agora está livre. Volta para a Alemanha para causar problemas e para colocar em perigo a vida daqueles que defendem o país”, acrescentou Salvini, que também é vice-primeiro-ministro e líder da extrema-direita italiana.

Capitã do Sea Watch. “Foi um ato de desobediência, não de violência”

Os representantes da Sea Watch e de outras ONG envolvidas no resgate de migrantes no Mediterrâneo, como a Open Arms ou a Mediterranea, e de organizações como os Médicos sem Fronteiras falaram hoje à comunicação social em Roma depois de terem recusado comparecer numa comissão do Parlamento italiano.

O motivo apresentado foi o facto da Sea Watch não ter sido convidada para a comissão parlamentar. Durante a conferência de imprensa em Roma, as ONG defenderam que a capitã alemã atuou em conformidade com o direito marítimo.

Em declarações aos jornalistas, a ONG Mediterranea afirmou que caso se depare com uma situação similar ao do navio “Sea Watch 3” “irá agir como está previsto nos regulamentos das leis internacionais marítimas” o que “significa colocar a salvo as pessoas que se encontram a bordo”.

Carola Rackete foi acusada de resistência ou violência contra um navio de guerra estrangeiro, bem como da tentativa de abalroamento, por ter chocado com uma patrulha de uma unidade policial militarizada (Guardia di Finanza) durante as manobras no porto de Lampedusa. Também foi acusada de ter entrado em águas territoriais italianas sem autorização.