Desde que viu a parada militar do 14 de julho em França que Donald Trump quis fazer o mesmo nos EUA — só que melhor. Depois de assistir ao desfile militar que assinala o dia nacional francês ao lado de Emmanuel Macron,  Donald Trump confessou o seu desejo de levar aquela ideia de Paris para Washington D.C.. Uma parada militar, que para além das convencionais marchas, também teve outros momentos musicais como o hit Get Lucky dos Daft Punk,

Em conferência de imprensa, com o Presidente francês ao lado, Donald Trump disse que aquela parada militar tinha sido “uma coisa tremenda para a França e para o espírito de França”. “Muito em parte por aquilo que vi [em Paris], talvez façamos algo assim a 4 de julho em Washington, na Avenida da Pensilvânia, disse, referindo-se à avenida onde se situa a Casa Branca. A ideia arrancou risos na sala, inclusive a Emmanuel Macron. Donald Trump também a rir, disse: “Não sei, vamos tentar superá-la”.

É certo que logo no ano seguinte, 2018, não houve parada. Apesar de o Pentágono chegar a ter planos para uma parada em Washington D.C. no Dia do Veterano (11 de novembro), esta acabou por ser cancelada. Quando surgiram notícias de que o custo estimado seria de 92 milhões de dólares (81,6 milhões de euros), Donald Trump voltou atrás e culpou os autarcas de Washington D.C.. “Quando lhes pedimos um preço para fazer uma grande parada militar, eles pediram um número tão alto que tive de cancelar”, disse.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A ideia podia até já estar esquecida para alguns, mas não para todos. E, agora, dos risos que se ouviram naquela conferência de imprensa de 2017, sobra apenas uma certeza: Donald Trump não estava a brincar.

Desta vez, vai mesmo acontecer: esta quinta-feira, para celebrar o 4 de julho, Dia da Independência dos EUA. Esta segunda-feira, Donald Trump garantiu: “Vamos ter um grande 4 de julho em Washington D.C.. Vai ser único, vai ser especial”. Referindo-se ao evento pelo seu nome oficial — “Uma Continência à América” —, o Presidente dos EUA disse que além de um discurso dele mesmo, a parada vai contar com “os melhores aviões de combate e outros também” e ainda “alguns tanques estacionados lá fora”.

Os tanques em questão são os M1 Abrams, que foram levados para o local da cerimónia em reboque, para não causarem danos nas estradas. De acordo com a CNN, será também demonstrada uma “grande variedade de armas”. Mas o prato forte deverá mesmo ser servido nos ares: além dos B-2 Spirit, F-22 Raptor ou F-35C, esta vai ser também a oportunidade para mostrar o helicóptero VH-92, também conhecido com Marine One, que será o novo helicóptero presidencial. Para que toda a logística em torno dos voos destas aeronaves seja possível, os voos do Aeroporto Ronald Reagan, o principal de Washington D.C., vão estar interrompidos durante 1 hora e 30 minutos.

No Twitter, Donald Trump prometeu ainda “o maior fogo de artifício de sempre!”. Toda a pirotecnia a ser utilizada foi doada por duas empresas líderes do setor nos EUA — Fireworks by Grucci e a Phantom Fireworks. Nem de propósito estas são algumas das empresas prejudicadas pela guerra comercial entre os EUA e a China, já que 90% das matérias importadas por aquele setor chegam do gigante asiático.

Sabe-se ainda que o evento terá a duração de uma hora, entre as 18h30 e 19h30 locais desta quinta-feira (23h30 e 00h30 de Lisboa).

Bilhetes para doadores republicanos, o custo desconhecido da parada e a manifestação com o bebé Trump

Ao contrário do que Donald Trump indicou há dois anos ao lado de Emmanuel Macron, a parada deste 4 de julho não vai ser ao longo da Avenida da Pensilvânia, mas antes em frente ao Memorial de Lincoln. O espetáculo será transmitido pelas televisões — com a exceção de pelo menos uma, a MSNBC, que já deixou saber que não vai transmitir o evento em direto — e todos os que quiserem vê-lo de perto terão de ter bilhete.

A distribuição de bilhetes não foi feita sem polémica. De acordo com o Huffington Post, o Comité Nacional Republicano, que serve como órgão diretivo do Partido Republicano, ofereceu vários bilhetes a alguns dos maiores doadores de dinheiro para as campanhas daquele partido — levantando dúvidas sobre a isenção de um evento que serve para assinalar um marco da História dos EUA.

Entretanto, também têm surgido várias perguntas e poucas respostas em torno dos custos que o evento “Uma Continência à América” vai ter para os contribuintes norte-americanos. De acordo com o Washington Post, que cita duas fontes não identificadas, o National Park Service, a agência federal que cuida gere os parques nos EUA, vai gastar 2,5 milhões de dólares (2,2 milhões de euros) para realizar aquele evento. Embora este valor esteja bem abaixo da para militar prevista em 2018 — os 92 milhões de dólares então falados previam, entre outras coisas, a reparação dos danos causados pelos tanques no asfalto —, também está 500 mil dólares (443 mil euros) acima dos custos da até agora habitual celebração do 4 de julho em Washington D.C..

Até agora, os custos deste evento ainda não foram oficialmente anunciados — facto que levou levou três senadores democratas — do Novo México, do Vermont e do Maryland — a emitir uma nota de protesto, acusando o Presidente dos EUA a querer “transformar um dia de união nacional numa dia de vaidade — usando o exército com motivações políticas e distribuir regalias entre os seus apoiantes políticos — à custa dos contribuintes”.

Este não é, porém, o único protesto em torno da cerimónia de 4 de julho em Washington D.C.. Nas imediações do Memorial Lincoln, vai haver uma manifestação anti-Trump, convocada pelo coletivo Code Pink. Depois de vários avanços e recuos, aquele grupo foi autorizado a utilizar um balão de grandes dimensões que retrata Donald Trump como um bebé — inspirado no balão com que os manifestantes em Londres receberam o Presidente dos EUA no passado junho.