Úrsula von der Leyen já está a lutar por um cargo que ainda não ocupou. Horas depois de ser escolhida numa difícil negociação no Conselho Europeu, nos corredores do Parlamento Europeu fez-se saber que o veto da candidata proposta para presidir à Comissão Europeia era uma possibilidade. A delfim de Angela Merkel decidiu assim fazer uma visita surpresa a Estrasburgo para uma reunião com o seu grupo político — a bancada do PPE, que ainda não lhe garantiu o apoio. É o início de uma operação de charme, fundamental para que passe no último teste: a aprovação no Parlamento Europeu. O encontro era para durar duas horas, mas ficou-se pelos 45 minutos. O vice-presidente do PPE, Paulo Rangel, admitiu que a alemã é “mais inspiradora” que Angela Merkel, mas avisa que “nada está garantido” e que este é um “processo que está no início“.

Rangel inscreveu-se, mas não teve tempo para fazer uma pergunta à alemã. Mais sorte teve a mulher mais jovem da bancada do PPE, a portuguesa Lídia Pereira, que fez uma pergunta, como diriam alguns dos seus companheiros, “mais aguerrida”. A líder do YEEP, a juventude partidária do PPE, questionou Von der Leyen: “Como é que nós explicamos aos eleitores, em particular aos jovens, o porquê de perdermos tanto tempo com estas questões administrativas, de cargos de topo na UE, e não investimos naquilo que devia ser uma emergência como o Ambiente ou a reforma da Zona Euro?” Ou seja: comentou criticamente em forma de pergunta que para os jovens era incompreensível que se passasse tanto tempo a discutir cargos, em vez de se discutir políticas urgentes.

A candidata à Comissão disse que há um compromisso para atingir consensos, mas que é difícil muitas vezes fazê-lo mais depressa, uma vez que estão sentados 28 países diferentes à mesma mesa. Admitindo que estava a ser “vaga” na resposta, Úrsula von der Leyen prometeu ser mais concreta para a próxima e que dentro de 15 dias voltará ao Parlamento.

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Outros deputados ficaram impressionados com a forma como a deputada passava do alemão para o francês, do francês para o inglês com facilidade e de como Von der Leyen acabava por ter conhecimento de vários dossiers. Só não estava apta para responder às perguntas mais técnicas, que alguns — muitos dos que estão desconfiados — fizeram para a testar.

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Voltando a Paulo Rangel, que integra a direção da bancada, o eurodeputado admite que o processo pode demorar, mas não vê mal nisso. Lembra que na comissão Barroso II, a recondução do português, “o voto foi adiado de julho para setembro, porque houve garantias que o Parlamento Europeu exigiu”. O eurodeputado admite que o processo vai ser complexo, ainda assim vê dois pontos positivos na reunião de Von der Leyen com a bancada: “Tem uma grande consciência que tem de ganhar a confiança do Parlamento; e está totalmente disponível para negociar com o Parlamento as prioridades.

Segundo o português, a impressão que deu na reunião é a de alguém que tem uma “atitude construtiva do ponto de vista institucional”, mas também uma “bagagem sobre os assuntos europeus, especialmente quando foi interrogada por múltiplos deputados“. Sobre os temas, Rangel conta que a candidata à comissão respondeu a temas como “a zona euro, o Brexit, Schengen, problemas de competitividade ou problemas de defesa”. E até sobre a “articulação entre os EUA e a Europa” ou as “questões da China”.

Rangel diz que a imagem que Von der Leyen passou é de alguém que é “bem mais forte e carismática do que as pessoas estão à espera”. Por comparação com Juncker, Rangel identifica um “estilo de comunicação muito mais forte.” Juncker, lembra o vice-presidente do PPE e da bancada do PPE, é “forte nas suas convicções europeístas, nas linhas vermelhas”, mas “quando não concorda com uma coisa às vezes é um pouco provocatório no tom”. Já a alemã é de “impressionar mais à primeira vista”.

O eurodeputado não exclui, no entanto, “hipótese do processo se prolongar”, embora não ache isso uma inevitabilidade.

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