O filme anterior do Homem-Aranha a solo com Tom Holland no papel do super-herói, “Homem-Aranha: Regresso a Casa” (2017), tinha duas boas ideias a presidir à história. Primeira: a namorada de Peter Parker, era, sem este o saber, a filha do vilão, Adrian Toomes (Michael Keaton), um empresário de salvados de Nova Iorque que, ressentido, se transforma em Vulture após ter sido preterido num importante contrato para o conglomerado de Tony Stark/Homem de Ferro. Segunda: a caracterização do dito Vulture, muito bem personificado por Keaton, cujas motivações e personalidade contribuem bastante para que “Homem-Aranha: Regresso a Casa” não tenha a desmesura artificial, maçuda e desumanizadora típica das fitas deste género, fazendo dele uma feliz combinação do melhor dos “teen movies” e dos filmes de super-heróis.

[Veja o “trailer” de “Homem-Aranha: Longe de Casa”:]

Em “Homem-Aranha: Longe de Casa”, Jon Watts, que volta a realizar, e os argumentistas, tentam repetir o formato do filme anterior, encaixando uma subintriga de interesse adolescente na história maior de ação. Agora, e terminado o ano letivo, Peter Parker, MJ (Zendaya), Ned (Jacob Batalon) e outros colegas do liceu vão em viagem à Europa. E Peter quer aproveitá-la para pedir namoro a MJ em Paris, no topo da Torre Eiffel. Por isso, e tirando uma breve cena deslocada logo no início, os primeiros 20 minutos de “Homem-Aranha: Longe de Casa” são uma coleção de situações feitas dos filmes de adolescentes, variante “viagem de finalistas à Europa”, a que não falta a dupla de professores ridículos a servir de alívio cómico.

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[Veja uma entrevista com os atores e o realizador:]

Quando o grupo chega a Veneza, manifesta-se então o primeiro monstro do filme, uma criatura gigante feita de água que ameaça arrasar a cidade, e surge também um novo super-herói que a vem combater, Mysterio (Jake Gyllenhaal). Passa-se que esses monstros são quatro, conhecidos como Elementais, vêm de uma Terra paralela, que destruíram, para agora atacar a nossa, e da qual o dito Mysterio é o único sobrevivente humano, que as persegue para acabar com elas, e vingar a morte da sua família e de todos os seus semelhantes. Nick Fury (Samuel L. Jackson), secundado por Maria Hill (Cobie Smulders) está a dar apoio a Mysterio e quer que Peter Parker esqueça as férias, adie o pedido de namoro a MJ, vista o uniforme de super-herói que a tia May lhe pôs na mala por causa das coisas, e os venha ajudar a derrotar os Elementais.

[Veja uma cena do filme:]

Mesmo apesar da história dar, a certa altura, um valente golpe de rins (que os mais batidos nestas coisas do cinema vão adivinhar com antecedência…), de ter embutido um curioso comentário sobre a natureza dos efeitos especiais e das criaturas que fabricam, e de ser, mais uma vez, o ressentimento pessoal a mover o vilão (e desta vez, de forma muito rebuscada), “Homem-Aranha: Longe de Casa” não consegue ombrear com “Homem-Aranha: Regresso a Casa” e repetir a sua boa receita. E essencialmente porque, ao tirar a ação de Nova Iorque e ao “exportá-la” para várias grandes cidades europeias, o filme volta à rotina da espectacularidade mastodôntica e destrutiva movida a efeitos digitais, em prejuízo de uma dimensão mais “humana” e descontraída que, desta vez, as peripécias estereotipadas ou forçadas de Peter com MJ, e do resto da turma, não chegam para dar.

[Veja imagens da rodagem do filme:]

https://youtu.be/sPqsXeALQoU

No final, durante e depois da longa ficha técnica de “Homem-Aranha: Longe de Casa”, há o habitual e pseudo-surpreendente remissivo para o próximo filme da série (Oh, não! A identidade secreta de Spidey vai ser revelada a todo o mundo!), e uma (esperada) revelação sobre algumas das personagens da fita. A série “Homem-Aranha” ainda tem muito pano para teias e já se fala até no aparecimento da Mulher-Aranha num futuro muito próximo. Os fãs continuarão satisfeitos, e quanto aos outros, preferirão frequentar paragens cinematográficas menos carregadas de super-heroísmos e de fabricações digitais, e livres do monopólio e da sede de ganhuça da Marvel.