A reflorestação do planeta é a solução mais eficaz para combater as alterações climáticas, tendo o potencial de capturar dois terços das emissões de dióxido de carbono produzidas pela humanidade, segundo uma investigação esta quinta-feira publicada na revista Science.

O estudo, do Laboratório Crowther, na Suíça, é o primeiro a quantificar quantas árvores o planeta Terra pode suportar, onde elas poderiam existir e quanto carbono poderiam armazenar. E concluiu que há potencial para aumentar em um terço as florestas do mundo inteiro, sem afetar as atuais cidades ou as terras agrícolas. Seria o mesmo que reflorestar uma área equivalente a mais de 100 vezes o tamanho de Portugal.

Uma vez desenvolvidas, essas florestas poderiam armazenar 205 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono, cerca de dois terços dos 300 mil milhões de toneladas de carbono extra que existem na atmosfera devido à atividade humana desde a revolução industrial.

O estudo, liderado por Jean-Francois Bastin, também sugere que há um grande potencial para regenerar árvores em zonas agrícolas e urbanas, e destaca que essas árvores podem desempenhar um papel importante no combate às alterações climáticas.

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Mas alerta também para a urgência de se passar à ação, porque o clima já está a mudar e em cada ano a área que pode suportar novas florestas vai diminuindo. Mesmo com o aquecimento global limitado a 1,5º Celsius a área disponível para reflorestação pode ser reduzida em um quinto até 2050, assinala o estudo.

“Todos sabíamos que a reflorestação poderia ter um papel na luta contra as alterações climáticas, mas não tínhamos conhecimento científico do impacto que isso poderia causar. O nosso estudo mostra claramente que a florestação é a melhor solução disponível atualmente e fornece provas concretas para justificar o investimento”, diz Tom Crowther, professor e um dos autores do estudo, no artigo da Science sobre a investigação realizada.

“Se agirmos agora, isso poderia reduzir o dióxido de carbono na atmosfera em até 25%, para níveis vistos pela última vez quase há um século”, adiantou.

Para tal, advertem os autores do estudo, é fundamental proteger as atuais florestas e continuar no caminho de eliminar os combustíveis fósseis, porque são necessárias décadas até que as novas florestas cresçam.

O Laboratório Crowther junta cientistas de várias áreas e estuda os processos ecológicos que influenciam as alterações climáticas. Faz parte do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), considerada das melhores universidades do mundo e a principal nas áreas das ciências da Terra e do Meio Ambiente.

Uma análise da ONU divulgada no ano passado propunha que além de outras medidas na luta contra as alterações climáticas é necessário plantar mais mil milhões de hectares de floresta até 2050. O estudo vem mostrar que essas árvores podem ser plantadas e dizer quanto carbono elas vão capturar, confirmando que o cenário é “indiscutivelmente alcançável”, segundo os autores do trabalho.

Atualmente existem 5,5 mil milhões de hectares de floresta (segundo definição de floresta da ONU). O Laboratório Crowther diz que podiam ser reaproveitados entre 1,7 e 1,8 mil milhões de hectares em áreas com baixa atividade humana e que não são usados como terras urbanas ou agrícolas.