O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, admitiu esta sexta-feira “medidas extraordinárias” em parceria com multinacionais que exploram gás natural para lidar com os ataques no norte do país, rejeitando apontar como causas o extremismo islâmico.

“Nós, como governo, como moçambicanos, não gostaríamos que os nossos parceiros ficassem em pânico. Há muita colaboração entre nós e multinacionais que estão a explorar gás nessa zona, teremos que tomar medidas, nem que sejam extraordinárias, para ver se esse processo não ofusca o crescimento de Moçambique naquela região”, afirmou Filipe Nyusi, numa entrevista à Lusa e à Euronews à margem do EurAfrican Forum, que decorre até esta sexta-feira em Carcavelos, Cascais.

Os ataques no norte, reivindicados por elementos que se apresentam como extremistas islâmicos, já causaram mais de 200 mortos, perto de uma das maiores reservas de gás natural do mundo e que Moçambique vê como a solução para sair do ciclo de pobreza em que parte do país tem estado mergulhado.

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Em setembro, o papa Francisco visita Moçambique, Madagáscar e as ilhas Maurícias, pelo que este já foi um tema abordado nos encontros entre Nyusi e o líder da Igreja Católica.

“Abordei este assunto no Vaticano”, disse o Presidente moçambicano, que recusa olhar para estes ataques como uma questão religiosa.

Em Moçambique, “não há um histórico de mau relacionamento entre muçulmanos e cristãos”.

“Ainda não chegámos à conclusão de que aquelas pessoas têm uma motivação religiosa”, disse Filipe Nyusi, que visita o Vaticano na próxima semana para ultimar os detalhes da viagem papal.

“O santo padre vai ficar claramente preocupado com ações de assassínios, de morte de pessoas e de queimada de bens […] e vamos explicar como se manifestam e o que nós estamos a fazer”, afirmou Nyusi.

“Iremos ouvir quais os conselhos que ele tem” para este caso, mas sem “precipitar conclusões sobre quem é ou o que faz” para evitar “pôr o santo padre numa situação embaraçosa, em que ele venha falar sobre questões de fundamentalistas” religiosos, que “é algo que não se confirma”, acrescentou.

A província de Cabo Delgado, palco de uma intensa atividade de multinacionais petrolíferas que se preparam para extrair gás natural, tem sido alvo de ataques de homens armados desde outubro de 2017.

O Governo moçambicano tem apresentado versões contraditórias sobre a violência na região, tendo apontado motivações religiosas associadas ao islamismo em vários momentos e, mais recentemente, a garimpeiros.

Recentemente, um suposto ramo do Estado Islâmico reivindicou ter matado vários militares moçambicanos em Cabo Delgado durante um confronto, mas essa ação nunca foi confirmada pelas autoridades.