A mulher do ex-presidente da Interpol Meng Hongwei, detido na China por corrupção, moveu um processo contra a organização policial internacional, noticiou este domingo o jornal South China Morning Post.

De acordo com o diário de Hong Kong, que cita dois dos advogados de Grace Meng, a queixa foi apresentada junto do Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia (Holanda).

Acontece menos de três semanas depois do ex-líder da Interpol ter confessado, a 20 de junho, que aceitou mais de dois milhões de dólares em subornos, segundo um tribunal chinês.

Grace Meng quer que o tribunal com sede em Haia decida se a Interpol cumpriu com as suas obrigações após o desaparecimento do marido, em setembro do ano passado, durante uma deslocação a Pequim.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A Interpol não conseguiu proteger e ajudar a minha família e é cúmplice dos atos ilícitos do seu país membro, a China”, afirmou Meng, em comunicado citado pelo Morning Post.

“Apesar das ameaças da Interpol para que não falasse, anuncio que avancei com um processo judicial” contra a organização, acrescenta a nota divulgada pelos advogados.

A equipa de representantes legais de Meng integra quatro pessoas, incluindo o holandês Rutsel Martha, ex-diretor de assuntos jurídicos da Interpol, confirmou o próprio ao jornal de Hong Kong.

O jornal também cita uma resposta da Interpol, em que a organização descreve as alegações de Meng como “infundadas”.

“Estes procedimentos de arbitragem são confidenciais. Portanto, não podemos abordar as especificidades do processo, exceto para dizer que contestamos as alegações”, acrescentou.

Meng Hongwei desapareceu subitamente em setembro do ano passado, durante uma deslocação a Pequim, mas a China só ordenou formalmente a sua detenção a 24 de abril deste ano.

Meng, de 64 anos, foi vice-ministro da Segurança Pública até novembro de 2016, altura em que foi nomeado para dirigir a organização policial internacional, com sede em Lyon, França.

A escolha de Meng foi na altura celebrada por Pequim, que tem vindo a reforçar a sua presença em organizações internacionais. Mas o então chefe da Interpol perdeu o contacto com a família depois de embarcar num avião para a China, em 25 de setembro passado.

O tribunal disse que Meng abusou do seu poder, inclusive enquanto vice-ministro da Segurança Pública e chefe da polícia marítima, favorecendo terceiros, em troca de subornos.

Embora não seja claro quando é que a sentença de Meng será proferida, a confissão garante que será condenado.

Assumir a culpa e expressar arrependimento pode resultar em punições ligeiramente mais leves, mas a China tem sido célere em condenar à prisão perpétua altos quadros acusados de corrupção.

A mais ampla e persistente campanha anticorrupção na história da China comunista, lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, após ascender ao poder, em 2013, puniu já mais de um milhão e meio de funcionários do Partido Comunista.

A lei chinesa estabelece que a polícia tem a autoridade de manter incomunicáveis e em local secreto, por um período até seis meses, suspeitos de crimes contra a segurança nacional, ou acusados de terrorismo ou suborno, um regulamento que em muitos casos se aplica a dissidentes ou ativistas.