Portugal vai avaliar possibilidade de enviar mais mulheres militares para missões de paz da Organização das Nações Unidas na República Centro Africana, Mali e Colômbia, disse esta quarta-feira à Lusa o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA).

“Vamos certamente ponderar e avaliar a possibilidade de reforçar os contributos de mulheres [portuguesas] para estas operações”, declarou o almirante António Silva Ribeiro em entrevista à Lusa, depois de explicar que o Ministério da Defesa prevê a continuação da presença portuguesa na República Centro-Africana (RCA), Mali e Colômbia no próximo ano.

Silva Ribeiro participou nesta quarta-feira numa conferência na sede da ONU sobre Mulheres, Paz e Segurança, em que apontou o exemplo das Forças Armadas Portuguesas na integração de mulheres e igualdade de oportunidades na carreira militar.

Devido a uma “necessidade permanente de adaptação das Forças Armadas às mudanças no ambiente estratégico”, o EMGFA pretende que “cada vez mais, o contributo português seja no quadro das orientações da ONU sobre participação de mulheres”.

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António Silva Ribeiro lembrou que as Forças Armadas portuguesas começaram a incluir mulheres há 30 anos e nunca houve casos de discriminação.

Alertou, no entanto, que a participação de mulheres nas Forças Armadas é reduzida, situando-se atualmente nos 10% do total de militares e atribuiu o baixo número à “falta de atratividade” da carreira militar em Portugal.

O país está autorizado a ter 32 mil militares, mas neste momento tem 26 mil, disse Silva Ribeiro, acrescentando que se verificam “grandes deficiências de praças: o Exército tem menos 4.000 praças do que devia ter, a Marinha menos 600, a Força Aérea menos 900”.

O CEMGFA admitiu que há um decréscimo do número de mulheres, que em anos anteriores já foi de 13%, “não por deficiências de integração, mas sobretudo por falta de atratividade das Forças Armadas”.

Na RCA “já temos mulheres nas forças que vão para combate”, como apontadoras de viaturas blindadas, indicou.

Questionado pela Lusa se as militares do sexo feminino precisam de especial atenção ou proteção contra acidentes ou ferimentos físicos, António Silva Ribeiro considerou que os riscos são iguais para homens como para mulheres e não se justificam medidas adicionais.

Falando sobre o caso do soldado Camará, atingido gravemente num acidente na RCA que obrigou à amputação das pernas, o CEMGFA comentou que foi uma “fatalidade” que pode ocorrer com qualquer militar e que também existe uma mulher nas mesmas funções do militar ferido.

“Dentro daquilo que são os grandes princípios da igualdade de género, os soldados, sejam eles, do sexo masculino, sejam do sexo feminino, estão sujeitos exatamente aos mesmos riscos”, concluiu o almirante.

Numa nota dirigida à imprensa, à que a Lusa teve acesso, o Chefe do Estado-Maior-General declara que “desde a Bósnia a Moçambique, do Kosovo a Timor-Leste, do Líbano à República Centro-Africana ou à Colômbia, as mulheres portuguesas têm tido uma presença constante em missões das Nações Unidas, da NATO e da União Europeia”.

A mesma nota indica que a igualdade entre homens e mulheres nas Forças Armadas é um “imperativo estratégico” e um “requisito de liderança”.

O Estado-Maior-General escreve que “o empenhamento de militares femininos aumenta a eficácia operacional, pois contribui significativamente para a nossa capacidade de melhor compreendermos, cultural e socialmente, o ambiente em que operamos e para interagirmos com sucesso com a população, principalmente com outras mulheres e crianças”.