Depois das lágrimas, dos sorrisos, dos últimos minutos de jogo com a camisola 10 encarnada num 10 de julho para a posteridade, e até de ficar preso na ponte quando seguia para estúdio, tempo para a revisão da carreira e de cinco épocas de águia ao peito.

“Se já começo assim o programa, meu Deus”, desabafa, emocionado, ao rever imagens da despedida. “Estava muito ansioso, confesso, esperando por este momento. Eu e a minha família estamos muito felizes por ter terminado aqui. Sabia que já não conseguiria jogar o que gostaria”, admite no arranque de uma entrevista exclusiva à Benfica TV, 24 horas sobre esse jogo de apresentação da versão SLB 2019/2020 que assinalou também a despedida do brasileiro dos relvados. “Foi uma mistura de muitas coisas. Ali passou pela minha cabeça que seria o meu último momento como jogador profissional. Estava muito sorridente, queria terminar a minha carreira assim, alegre, feliz, no momento certo”.

Foram 10 minutos a tentar o golo que não chegou, e para desfrutar da companhia dos colegas. Não dava mesmo para jogar mais? “Não dava. Esse último ano as dores e dificuldades foram mais intensos, os treinos, as viagens”. Jonas, que é como diz J10nas, recua a janeiro e a essa segunda crise de dores que ameaçava ser fatal. “Confesso que mandei uma mensagem para a minha família a dizer ‘vou ver se chego ao final da época'”. Mas chegou, graças a um empurrão decisivo.

As palavras de Lage e a saída “com chave de ouro”

“Quando Bruno Lage chegou foi fundamental. Tive uma conversa com ele. Pensava encerrar carreira em janeiro, falei com o Rui Costa, com o presidente, com o Tiago Pinto, e com o Bruno Lage. Chamou-me à sala dele e disse-me que eu tinha que acabar a carreira como um campeão, no fim da época”, partilha o jogador, lembrando como o plano de prevenção foi traçado ao milímetro, entre treinos abreviados e combinações pensadas ao pormenor para o craque. “Tudo foi programado, tudo certinho, para fechar com chave de ouro. Estou muito grato a Bruno Lage”. Foi essa conquista, selada em maio, com a conquista do título, que o treinador, revela Jonas, lhe segredou ao ouvido esta quarta-feira, na hora do adeus. Sobre os destinos do clube, não hesita. O técnico vai “com certeza” levar o Benfica ao 38. Bruno Lage tem uma competência tremenda. Todos os jogadores estão felizes com o seu trabalho”.

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A relação com Vieira e a chegada ao Benfica

A história de “Joninhas” no Benfica, como é carinhosamente tratado pelos ex-colegas, começa lá atrás. “Quando vim para cá vim com as minhas malas do Valência, ainda não tinha a proposta concreta, mas já tinha terminado o meu ciclo no Valência. Foi a primeira vez que estive presente numa negociação, de todos os clubes por onde passei”, aponta o 10 a quem Luís Filipe Vieira estende os louvores da praxe, e com quem Jonas admite ter tido “uma relação de amizade”. “A humildade dele é fundamental. A proximidade com os jogadores é impressionante. Trabalha 24 horas para este clube”, descreve. O presidente devolve as palavras — -“Para ti Jonas, o nosso abraço. Esperamos ver-te novamente em casa (…) Como homem é extraordinário, como jogador toda a gente sabe”” — e passa em revista a chegada do pistolas. “A primeira fase foi uma negociação pura e dura. Mas ficou muito sensível a ficar no Benfica”.

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As lágrimas premonitórias, o último golo, Félix e o sucessor da 10

Recuando ainda mais na história, tempo para um abraço via vídeo de Ernesto Valverde, atual treinador do Barcelona, que orientou Jonas no Valência, em 2012, 2013, ainda a anos de distância dessas lágrimas que anteciparam o cenário que aí vinha. Foi ao minuto 68 desse Benfica vs Santa Clara, quando entrou em campo para render João Félix, que se adivinhou uma decisão já tomada. “Já tinha decidido terminar a carreira”, confirma. Passamos para o último golo, a 4 de maio, frente ao Portimonense. “Esse golo é uma prova de que temos que fazer pela vida”, comentara Lage na véspera.

Sobre João Félix (que “vai ter uma carreira brilhante, porque merece e porque tem qualidade para dar esse salto já), seria “sem dúvida” um herdeiro da camisola 10 se tivesse ficado no plantel benfiquista, mas outros fortes candidatos se perfilam para envergar o número mágico. “Gostava muito de combinar jogadas com o Pizzi. Mas percebo que ele também gosta da 21. Há grandes jogadores no Benfica que podem pôr a 10 nas costas”.

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Pausa ainda para um momento de 10 para 10, com a mensagem de Rui Costa — “Foi uma delícia ter-te connosco. Serás sempre um dos nossos” — para um regresso a um dos momentos mais emotivos, “o primeiro título nacional, em 2014/2015”, e ainda para uma série de palavras de amigos, ex-colegas e familiares. Do maestro João Carlos Martins, pretexto para uma revelação de Jonas — “Gosto de música e quero aprender bateria. Adoro samba e gosto de escutar samba antes dos jogos” — a Luisão, fiel companheiro “no campo e no churrasco”, sem esquecer noitadas épicas com Júlio César, os familiares mais próximos, os elogios de Rui Vitória — “Jonas sai com a ficha limpa” — os contactos com Jesus — “ligou-me nas férias a perguntar se ia termina a carreira” — ou o “carinho enorme” por Jardel — “inclusive o filho dele paquera a minha filha, mais ainda não estou a deixar!, ri-se.

Sobre uma eventual ligação futura ao Benfica, tudo em aberto. “Vou voltar para o Brasil por uma questão familiar, para estar perto do meu pai e da minha mãe. Como estou há oito anos e meio fora, volto agora, mas a minha intenção é estar sempre passando por aqui, visitando e explorando este lado de Jonas no Benfica. É um desejo do clube, é um desejo meu. Volto para o Brasil mas com uma ligação forte aqui”.