Robôs, um “homem voador”, um exoesqueleto e uma demonstração futurista de uma plataforma voadora. Foram assim os festejos do feriado nacional francês de 14 de julho, o Dia da Bastilha, que contou com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente da República assistiu às comemorações do 14 de julho sentado entre a chanceler alemã Angela Merkel e Emmanuel Macron, que foi alvo de protestos dos coletes amarelos.

Os manifestantes apuparam o presidente francês quando descia a avenida dos Campos Elísios a bordo de um carro militar durante o tradicional desfile do feriado nacional.

Pelo menos dois pequenos grupos deste movimento contra a política social e fiscal do chefe de Estado vaiaram Emmanuel Macron, que contestaram durante meses na rua. Todos largaram os tradicionais coletes, provavelmente por uma questão de discrição num quarteirão patrulhado pela polícia, mas alguns agitaram balões amarelos e gritaram algumas palavras contra o presidente.

Este é o terceiro desfile do 14 de julho para Emmanuel Macron desde a sua eleição, em maio de 2017

No final, a polícia francesa deteve 152 pessoas. Segundo a agência espanhola EFE, que cita fontes da câmara municipal da capital francesa, a maioria foi detida por participar numa manifestação não autorizada, mas também houve detenções por atos violentos contra as autoridades, destruição de bens públicos e posse de armas.

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Segundo a televisão CNews, dois dos detidos são o lusodescendente Jérôme Rodrigues e Éric Drouet, destacadas figuras do movimento coletes amarelos que há meses contestam nas ruas as políticas de Macron. Segundo o Expresso, Jérôme Rodrigues vai ficar em prisão preventiva.

A situação foi especialmente tensa no início da parada militar, na avenida dos Campos Elíseos, quando os manifestantes apuparam o presidente Emmanuel Macron e, no final, entoaram cânticos contra o capitalismo e contra o lançamento de gás lacrimogéneo.

“Quem tentou impedir o desfile devia ter vergonha. Hoje é um dia em que a nação de une e julgo que o país deve ser respeitado”, afirmou o ministro do interior francês Christophe Castaner, aos jornalistas.

O homem que voou sobre Paris no Dia da Bastilha

As comemorações ficaram ainda marcadas por um “homem voador”. O campeão mundial de jet ski francês Franky Zapata voou com uma espingarda na mão várias dezenas de metros acima dos Campos Elíseos no “Flyboard Air”, uma máquina de sua invenção. Esta plataforma voadora, impulsionada por cinco motores a jato, tem interesse para as forças especiais francesas, que a consideram ter “potencial para ser utilizada em operações especiais em áreas urbanas”.

[O vídeo que mostra a exibição do “homem voador” nas comemorações do Dia da Bastilha]

Durante uma demonstração das forças especiais, em 2018, o Flyboard Air foi usado como uma plataforma para um francoatirador posicionado em apoio a grupos de comando para o assalto de barcos no Sena.

Após passar as tropas em revista na célebre avenida parisiense, acompanhado pelo Chefe do Estado Maior, Emmanuel Macron dirigiu-se à tribuna presidencial na praça da Concórdia, onde o esperavam muitos dirigentes europeus, entre os quais a chanceler alemã, Ângela Merkel, e o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

Este é o terceiro desfile do 14 de julho para Emmanuel Macron desde a sua eleição, em maio de 2017. A celebração realiza-se este ano sob o signo da cooperação militar europeia.

Militares portugueses mostram “amizade e respeito”

Os militares portugueses que desfilaram nos Campos Elísios falam da oportunidade única de participar numa das maiores paradas militares no Mundo e da demonstração de que os exércitos europeus “têm grandes relações de amizade e respeito” mútuos.

Muito antes de a parada do Dia da Bastilha começar, às 7h30, já os militares portugueses se estavam a organizar nos Campos Elísios. Mais do que obedecer a formalidades de sincronização ou organização num dos maiores desfiles militares do Mundo, os militares nacionais destacam o “prazer” de fazer parte deste dia especial em França.

“É um prazer chefiar a delegação que vai estar aqui com o símbolo da pátria, o estandarte nacional”, disse o tenente-coronel Óscar Fontoura em declarações à agência Lusa antes do início do cortejo.

O responsável destacou “dois aspetos importantes”: “Mostrar que os países europeus, nomeadamente os seus exércitos, têm grandes relações de amizade e respeito uns com os outros e que estão empenhados e conseguem desenvolver ações em conjunto, sendo que unidos somos mais fortes”.

O mote da parada deste ano é “Agir em conjunto”, homenageando as forças dos países que fazem da Iniciativa Europeia de Intervenção, uma força coordenada pela França que reúne 10 países europeus – Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estónia, Finlândia, Holanda, Portugal e Reino Unido.

Assim, não só o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e outros líderes europeus, como Angela Merkel, se juntaram a Emmanuel Macron na tribuna de honra, como elementos das forças de todos esses países desfilaram lado a lado com tropas francesas.

Quatro militares portugueses levaram a bandeira nacional que passou na Avenida pouco depois da revista às tropas do Presidente Macron.

Mas o aparato não assustou os militares portugueses: “A forma de executar e de organizar este evento é muito similar à nossa. Não há nada que nos espante muito relativamente à forma como eles resolveram os problemas. São movimentos imensos, estamos aqui há uma semana e meia, e está tudo bem organizado e sincronizado. Falamos a mesma linguagem em termos militares”, afirmou o tenente-coronel Óscar Fontoura.

Mais atrás e junto a militares franceses, desfilou a Marinha portuguesa, com cerca de 15 elementos. Para as forças portuguesas, que participaram em diferentes missões com os colegas franceses, foi um reencontro.

“Tem sido fácil [a coordenação com as forças francesas], porque nós, ao longo do ano, participámos em muitas missões. No caso dos fuzileiros, eles constantemente embarcam nos navios franceses em missões e, portanto, não é uma relação desconhecida, é uma relação bastante próxima”, indicou o comandante Gonçalo Galvão.

No entanto, continua a ser uma experiência “única”.

“Para nós, é um evento único. São poucos militares que participam neste tipo de evento e é uma grande honra participar num desfile militar desta dimensão. Das opiniões que tenho recolhido, estão todos muito contentes de terem sido selecionados para esta oportunidade que ficará na memória de todos”, concluiu o comandante da Marinha portuguesa.

No ar, um C295 da Força Aérea portuguesa voou coordenado com duas outras aeronaves francesas, um C160 Transall e um A400M.

“Viemos há três semanas para os primeiros voos de treino, é um voo em formação e em flecha, ou seja, com as aeronaves a voarem muito próximas. É um voo complexo e exigente”, disse o Major Bento, que pilotou a aeronave.

Mesmo sendo um desafio, para os quatro tripulantes do avião português este é um momento que “enche a alma e o coração de orgulho”.

A cumplicidade entre as forças portuguesas e francesas foi também testemunhada pelo Tenente-Coronel Philippi, que coordenou a ligação das forças dos países europeus que integraram este desfile.

“Temos uma colaboração especial com estas forças que vai para além deste desfile. Por exemplo, as forças espanholas aqui presentes combateram ao nosso lado no Mali. Não é só uma imagem ou um cartaz, é uma cooperação contínua”, afirmou.

O desfile contou com 67 aviões da Força Aérea francesa, 4.300 tropas a pé, 196 veículos militares, 237 tropas a cavalo e 40 helicópteros. Tal como todos os anos, desde 1980, o desfile começou no Arco do Triunfo e terminou na Praça da Concórdia.