De repente, era o músico mais famoso do mundo. Em 2012, de Seoul a Lisboa, não havia discoteca nem rádio mainstream em que “Gangnam Style” não se ouvisse, não havia audição que não fosse celebrada com uma dança que o tempo tratou felizmente de fazer esquecer. E de súbito silêncio: excluindo alguns fãs acérrimos da pop coreana, poucos ouviram falar dele desde então.
PSY, cujo nome de batismo é Park Jae-sang, tem hoje 41 anos. Não deixou de fazer música, mas como cantava Bruce Springsteen em 1984, “Glory days, well they’ll pass you by, glory days”. O seu ano de fama teve bem mais de 15 minutos, é certo, mas de 2013 em diante pouca atenção lhe foi dada na Europa e nos Estados Unidos da América. Pouca e cada vez menor, de ano para ano.
Se os anos recentes de PSY foram agora reconstituídos no jornal El Español, o recurso a outros jornais e notícias recentes ajuda a compor o puzzle sobre aquilo que lhe aconteceu. É claro que o sucesso enquanto “one-hit wonder” não é de somenos, porque PSY não foi apenas o autor de um êxito, foi o autor de uma canção-febre que se tornou num ápice a mais ouvida e dançada no planeta inteiro. Assim continuou por longos tempos: a ponto de o teledisco (ou videoclip, na versão inglesa) do tema somar neste momento mais de três mil milhões de visualizações só no Youtube, além dos prémios entretanto conquistados (por exemplo, nos MTV Europe Music Awards).
“Gangnam Style”, incluída no sexto álbum de PSY, Six Rules, foi basicamente o “Despacito” de 2012. Canção infeciosa, ouvido até à exaustão (e até à irritação generalizada), ficou um marco na sua vida. Por causa dela, PSY assinou contrato com uma editora distribuída pela Republic Records (do gigante conglomerado internacional Universal Music Group), foi reconhecido como “sensação internacional” pela Organização das Nações Unidas e terá reunido com Ban Ki-moon (o então secretário-geral) que o descreveu como alguém com “um alcance global sem limites” e com quem esperava poder “trabalhar”. Ainda foi a Oxford dar uma palestra sobre o que o tinha inspirado para compor e gravar “Gangnam Style” — e para o que já preparava para o futuro.
O sucesso foi uma dádiva e um pesadelo. Por um tempo, o homem que começou a querer ser uma estrela pop quando viu na televisão coreana, em adolescente, um vídeo dos Queen a cantar “Bohemian Rhapsody” em Wembley, viveu a maior parte dos seus dias feliz, mas com as sombras do êxito: “Às vezes não me sentia contente porque sabia que seria a canção mais importante da minha vida e que não voltaria a estar tão no topo novamente. Durante um tempo senti alguma pressão, como é que iria superar essa canção? Mas pensei em quem era realmente, porque não era o ‘cantor de Gangnam’. Estive centrado em encontrar-me”, disse em 2016 em entrevista ao jornal britânico The Sunday Times.
A música continuou logo no ano seguinte. “Gentleman” foi o single sucessor, estreado oficialmente numa espécie de concerto-acontecimento com 50 mil pessoas na assistência. No ano seguinte, 2014, novo single: “Hangover”, uma colaboração com o rapper norte-americano Snoop Dogg que parecia ter tudo para ser um êxito enorme no Ocidente (semelhante, seria sempre irrealista) mas que não logrou o mesmo efeito, apesar da popularidade. No ano seguinte, mais um single, “Father”, e um novo álbum, o seu sétimo disco, intitulado Chiljip Psy-da ı — deste, o single “Daddy” foi o mais bem-sucedido, mas absolutamente viral só mesmo (novamente) na Ásia e na sua Coreia do Sul natal.
Nos últimos dois anos, PSY lançou mais um álbum, o oitavo da carreira, com o original título 4×2=8 e com singles — “I Luv It” e “New Face” — que não só não chegaram ao mundo e ao litoral e interior português (só a título de exemplo) como tiveram um impacto ainda mais discreto. Já este ano, o sul-coreano fundou a sua própria agência e editora, chamada P Nation.
Da vida pessoal não se tem sabido grande coisa, após algumas polémicas antigas, como a posse e consumo de marijuana que o levou durante 25 dias para a prisão em 2001 e o debate sobre um alegado anti-americanismo que seria legível através de algumas letras antigas. Ele que estudou nos EUA, ou pelo menos tentou, dado que rapidamente se desinteressou quer do curso que frequentou na universidade de Boston quer no que frequentou depois no Berklee College of Music. Sabe-se apenas que, pelo menos até há três anos, tinha um problema com o álcool. Em entrevista ao britânico The Sunday Times, dizia: “Se estou contente, bebo. Se estou triste, bebo. Se está frio, bebo. Se está calor, bebo”.
As rádios europeias e norte-americanas perderam-lhe o rasto, mas os concertos continuam cheios, sobretudo na Ásia. Para vender bilhetes, continua a ser “o cantor de Gangnam Style” e isso é sinónimo de enchente. Entre este ano e o próximo deverá revelar um novo álbum, que voltará a ter um impacto discreto fora do mercado asiático, pelo menos para os padrões que ele próprio estabeleceu. Estima-se, também, que esteja de bolsos cheios, caso tenha sabido gerir as poupanças: em 2012, tinha uma fortuna estimada em perto de 25 milhões de euros. Na Ásia, continua uma celebridade, como se pode ver nos vídeos abaixo: