Desde os seus primórdios que o cinema sonha com a Lua, e já lá foi por inúmeras vezes, logo desde o início do século XX, primeiro dentro de um obus disparado de um canhão, e a partir daí ou em foguetes ou naves espaciais que obedecem a princípios científicos de rigor e verosimilhança bastante variáveis. Eis um quinteto de filmes fundamentais, de referência obrigatória na história do cinema, e da ficção científica, sobre o fascínio exercido sobre o homem pela Lua e a sua presença na superfície lunar.

“Viagem à Lua”

De Georges Méliès (1902)

O francês que inventou o fantástico e o maravilhoso no cinema foi inspirar-se (muito livremente) no livro “Da Terra à Lua”, de Júlio Verne, para fazer este filme de 13 minutos que contém uma das imagens mais emblemáticas e duradouras da história do cinema: o obus dos viajantes espetado no olho esquerdo da cara do “homem da Lua” (“Em cheio no olho!”, lê-se no intertítulo). Os viajantes terrestres descobrem que a Lua tem atmosfera respirável, travam conhecimento com os Selenitas (uns são beldades que o realizador foi buscar às Folies Bergère, outros criaturas que dão cabriolas e estoiram quando se lhes bate), fogem ao Rei da Lua que os quer aprisionar e voltam à Terra para serem condecorados. Esta ingénua mas deliciosa fantasia de ficção científica com embrulho de teatro musical de “boulevard” não era das fitas favoritas de Georges Méliès, mas teve tanto sucesso à época que, nos EUA, Thomas Edison fez cópias ilegais de “Viagem à Lua” e distribuiu-as por todo o país, e seria muito plagiada e motivo de inspiração para vários outros filmes posteriores. Em 1898, Méliès tinha já feito outro filmezinho fantasioso envolvendo a Lua, “La Lune à un Métre ou Le Rêve de L’Astronome”.

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“Uma Mulher na Lua”

De Fritz Lang (1929)

Poucos filmes de ficção científica se podem gabar de terem tido entre os seus consultores nomes como o engenheiro aeronáutico e pioneiro da astronáutica Hermann Oberth, que trabalharia mais tarde para o III Reich e depois da II Guerra Mundial para a NASA, ou o escritor e especialista em temas científicos Willy Ley, como sucedeu com “Uma Mulher na Lua”. Este foi o último filme mudo de Fritz Lang, escrito por si e pela mulher, Thea von Harbou, e baseado num livro desta. Lang era um grande apreciador de ficção científica, e “Uma Mulher na Lua” é um filme de invulgar realismo e rigor para a época, que divulgou pela primeira vez ao grande público vários dos princípios do funcionamento dos foguetões e das características da viagem nos mesmos, e que foram inclusivamente inspirar a construção dos foguetes V-2 alemães durante a II Guerra Mundial (o primeiro destes lançado com sucesso levava pintado o logótipo da fita). O enredo envolve um empresário entusiasta das viagens espaciais, um cientista que acredita haver ouro na Lua, uma assistente deste, a bela Friede, e mais algumas personagens, que viajam num foguete (baptizado com o nome daquela) para o astro vizinho da Terra, onde se envolvem em romances e conflitos. Mas mais do que a história, o que fica de “Uma Mulher na Lua” é o seu verismo técnico e científico.

“A Conquista da Lua”

De Irving Pichel (1950)

Produzido por George Pal, o realizador de “A Máquina do Tempo”, e escrito pelo grande mestre da literatura de ficção científica Robert A. Heinlein, com base no seu livro “Rocket Ship Galileo”, “A Conquista da Lua” é outro dos grandes exemplos de um filme sobre exploração especial que pretendia ser o mais rigoroso e actual possível em termos científicos, quanto o permitiam os conhecimentos da época sobre o tema e sobre uma viagem à Lua. Os seus efeitos especiais são também os mais sofisticados para a altura. Outra das curiosidade de “A Conquista da Lua” está no facto da expedição do foguete Luna não ser obra do governo americano, mas uma iniciativa de privados, que incluem um cientista, um militar reformado, um magnata da aviação e vários industriais, todos pondo o seu patriotismo e o prestígio dos EUA acima do lucro ou de qualquer outro interesse pessoal. “A Conquista da Lua” é um dos primeiros filmes “sérios” de ficção científica, que marcou uma nova etapa para este género, sendo referido pela NASA como tendo influenciado a génese do programa especial americano. Pormenor: a fita tem no interior um desenho animado, encomendado por Pal ao seu amigo Walter Lantz, onde o Pica-Pau explica os princípios científicos por trás das viagens no espaço e a forma como o homem pode chegar à Lua.

“2001: Odisseia no Espaço”

De Stanley Kubrick (1968)

A Lua não é o destino dos astronautas da nave desta obra-prima de Stanley Kubrick, mas é nela que vamos encontrar, a certa altura, desenterrado perto da cratera Tycho, o misterioso obelisco negro visto no início do filme, velho de quatro milhões de anos, que emite uma poderosa radição na direcção de Júpiter e que é considerado como “a primeira prova formal da existência de uma forma de vida inteligente extraterrestre”. Como era seu hábito, Kubrick, com a colaboração de Arthur C. Clarke, seu co-argumentista, consultor científico e autor do conto que inspirou a fita, “A Sentinela”, documentou-se exaustivamente, e as paisagens lunares de “2001: Odisseia no Espaço” são de uma verosimilhança, de um pormenor e de um apuro visual impressionantes, tal como todo o seu envolvimento tecnológico. E é esse achado na superfície lunar que vai desencadear a missão da nave Discovery. Este foi o último filme que mostra homens na Lua a ser realizado antes da missão Apollo 11, e de Neil Armstrong e Buzz Aldrin terem caminhado na superfície lunar, um ano e três meses depois da sua estreia nos EUA.

“Moon — O Outro Lado da Lua”

De Duncan Jones (2009)

Rodado em 33 dias com um orçamento de apenas cinco milhões de dólares por Duncan Jones, filho de David Bowie (nem por acaso, o compositor de “Space Oddity”), “Moon-O Outro Lado da Lua” tem como solitário protagonista Sam Bell (Sam Rockwell), um astronauta que, num futuro próximo, está há três anos instalado na Lua, acompanhado apenas pelo computador GERTY (voz de Kevin Spacey). Bell supervisiona as operações de uma instalação industrial quase totalmente automatizada, que se dedica à extracção de Hélio-3, um combustível alternativo, da superfície lunar. Pouco antes do seu regresso à Terra, Sam começa a experimentar estranhas alucinações, e uma delas leva-o a ter um acidente enquanto conduz o seu “rover” na superfície lunar. Quando acorda, Sam descobre que GERTY activou um “clone” seu, e a partir daí, as coisas complicam-se. Com meios limitados, apenas duas personagens, uma das quais não-humana, e muita sensibilidade e criatividade visual, Duncan Jones consegue que “Moon-O Outro Lado da Lua” seja uma história sobre a solidão sideral e as emoções e sentimentos desencadeados por tal situação, que tem embutida uma aventura minimalista e “hard tech” em espaço fechado, localizada numa Lua vazia e desolada, desprovida de qualquer atracção, mistério ou fascínio, contra a tradição dos filmes deste género.