Rui Pinto, o informático suspeito de aceder ilegalmente e revelar emails privados do Benfica na página Football Leaks, também é suspeito de ter entrado no email do juiz Carlos Alexandre, responsável por casos como a Operação Marquês ou o Caso BPN. De acordo com a investigação da Sábado, que cita uma fonte próxima da investigação, Rui Pinto pode ter acedido a dezenas de endereços eletrónicos do Ministério da Justiça, inclusivamente do juiz. O hacker terá também acedido aos segredos do processo da Operação Marquês, que tem Sócrates como arguido, e ao processo BES, que tem como protagonista Ricardo Salgado, adianta esta quinta-feira o Correio da Manhã.

Segundo as suspeitas do Ministério Público, Rui Pinto terá usado o email de um funcionário judicial – também ele considerado uma vítima neste caso como “porta de entrada” para as outras contas, a que acedeu pelo menos uma vez, a 8 de janeiro do ano passado. Carlos Alexandre já foi ouvido como testemunha pelas procuradoras Vera Camacho e Patrícia Barão, porque o email que o juiz usa no Tribunal Central de Instrução Criminal foi um dos endereços eletrónicos afetados.

Rui Pinto também terá tido acesso, em tempo real, a informação relativa aos casos mais sensíveis a cargo de Carlos Alexandre: processo Marquês e Caso BES. Os ficheiros continuam encriptados, pelo que as autoridades não sabem a que informações acedeu.

O fundador do Football Leaks, que está em prisão preventiva desde que foi extraditado da Hungria por suspeitas de extorsão, também pode ter pirateado emails de procuradores e de funcionários da Administração Interna, nomeadamente de Amadeu Guerra, antigo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), revelando emails que tinha trocado com Joana Marques Vidal, procuradora-geral da República na época. Maria José Morgado, ex-procuradora geral distrital de Lisboa, também terá sido afetada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rui Pinto está a ser julgado no âmbito do processo E-Toupeira. O mandado de detenção foi emitido pelas autoridades depois de se ter descoberto que o hacker português alegadamente tinha acedido aos servidores da PLMJ Advogados. Essa é a sociedade que defende o Benfica nesse mesmo processo, mas a maior parte dos ficheiros a que Rui Pinto alegadamente acedeu faziam parte da Operação Marquês e do Caso EDP. Perante essa suspeita, o Ministério Público terá acelerado a detenção de Rui Pinto.

“E Eu cá estarei; para continuar a denunciar”

Entretanto, Rui Pinto publicou, na sua conta do Twitter, uma reação, acusando os elementos ligados à investigação de se dedicarem a “esvaziar” o impacto das revelações do Football Leaks e das suas denúncias.

“Esta campanha de intoxicação da opinião pública, construída com base em violações seletivas do Segredo de Justiça, misturadas com calúnia e difamação, tem um objetivo muito claro: branquear a falência moral das Instituições Judiciais”, escreveu Rui Pinto.

O hacker acusa a justiça portuguesa de proteger a corrupção e a evasão fiscal, mas, mesmo que Portugal desvalorize as investigações, outros países vão investigar.

“Perseguem denunciantes, movem todos os esforços para sabotar investigações internacionais, arquivam 94% dos casos de corrupção, ignoram denúncias anónimas, violam direitos fundamentais e recusam reconhecer diretivas europeias e Convenções Internacionais (…) Mas nem tudo são más notícias. Como disse Eva Joly: ‘Mesmo que Portugal não investigue, essas informações serão investigadas por outros países’. E Eu cá estarei; para continuar a denunciar”, conclui assim Rui Pinto.