Em 1964, Tóquio foi a cidade escolhida para acolher os Jogos Olímpicos. Na altura, a cidade japonesa aproveitou o maior evento desportivo do mundo para apresentar e inaugurar o novo comboio de alta velocidade, tornando-se desde logo pioneira a nível global no que toca à tecnologia aplicada ao dia-a-dia e à mobilidade dos seus cidadãos. 55 anos depois, Tóquio volta a organizar uma edição dos Jogos Olímpicos — e mais de cinco décadas depois do comboio de alta velocidade, não está a deixar por mãos alheias as inovações e a certezas de que estes serão “os Jogos do futuro”.

Desde logo, a edição japonesa dos Jogos Olímpicos será a primeira a abraçar de forma integral a Agenda Olímpica 2020, um conjunto de 40 recomendações — que vão desde a ecologia e a consciência ambiental até à redução do custo da organização — do Comité Olímpico Internacional que visa “salvaguardar o caráter único dos Jogos e fortalecer o desporto na sociedade”. Para corresponder ao tópico que aborda o controlo da despesa, a organização dos Jogos do próximo verão recusou logo em 2016 o projeto da conhecida arquiteta Zaha Hadid para o novo Estádio Olímpico, o epicentro do evento: depois de uma construção contrarrelógio, levada a cabo em apenas três anos e que deverá estar concluída já em dezembro, o projeto do estádio acabou por ficar entregue ao japonês Kengo Kuma, que apresentou uma proposta avaliada em cerca de um terço da de Hadid.

O modelo do novo Estádio Olímpico de Tóquio, que está a ser construído no mesmo sítio que ocupava o antigo coliseu que acolheu a edição de 1964

O Estádio Olímpico, um dos quatro palcos de provas que ainda estão a ser construídos, está a crescer no mesmo sítio que ocupava o antigo coliseu que serviu de anfitrião aos Jogos de 1964. Tem madeira das 47 regiões do Japão e os assentos das bancadas já estão pintados de várias tonalidades de verde, para simular as folhas das árvores — tudo somado, quer isto dizer que a construção do Estádio Olímpico está a cerca de 90%, algo que não acontece no Centro Aquático, onde as obras ainda estão atrasadas. Na Vila Olímpica, à semelhança do epicentro dos Jogos, está praticamente tudo pronto para receber os cerca de 10 mil atletas.

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Tal como aconteceu em 1964, a organização japonesa está a desenvolver várias novidades tecnológicas para tornar os Jogos de 2020 os mais inovadores de sempre. No próximo verão, os turistas que se desloquem até Tóquio para assistir às provas desportivas vão testemunhar a entrada em prática do “Projeto Robô”, um conjunto de modelos autónomos que vão ser uma espécie de assistentes pessoais e que terão enquanto funções conduzir as pessoas até aos respetivos lugares nos recintos ou levar as mochilas e bagagens dos espectadores que se desloquem em cadeiras de rodas. Uma inovação que se junta agora a outra que recorda de forma óbvia os Jogos japoneses dos anos 60 — o Japão vai novamente aproveitar os Jogos Olímpicos para inaugurar um comboio. Desta vez, um comboio magnético que transita numa linha elevada sobre o chão e é propulsionado pelas forças atrativas e repulsivas do magnetismo.

Dois exemplos dos modelos autónomos que vão guiar as pessoas aos respetivos lugares nos eventos dos Jogos de Tóquio

“Queremos organizar os Jogos mais inovadores da história mas também os mais acessíveis. Estamos a trabalhar em diferentes projetos para o conseguir”, garantiu ao ABC Takeo Takahashi, o responsável pela organização dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Takahashi garantiu ainda ao jornal espanhol que as preparações estão a ter em conta as previsíveis altas temperaturas que se farão sentir na cidade japonesa durante os Jogos e que o Estádio Olímpico terá ventiladores e dispensadores de água na infraestrutura para arrefecer o ambiente. “O desafio de lidar com o calor e a humidade existente nos meses de verão no Japão é algo em que temos estado a trabalhar. Vamos fazer testes em vários eventos desportivos este verão para ver como afeta os atletas e os espectadores e estudar como podemos minimizar o efeito negativo”, acrescentou o japonês.

Por fim, os Jogos de Tóquio terão em conta a cada vez mais importante e influente consciência ecológica, ambiental e sustentável e todas as medalhas — de ouro, prata e bronze — atribuídas aos atletas serão fabricadas com vestígios de telemóveis e outros objetos eletrónicos que foram doados por cidadãos. A campanha “Everyone’s Medal”, a medalha de todos, foi lançada em 2017 e angariou cerca de 79 mil toneladas de telemóveis e outros aparelhos, numa iniciativa que amealhou 32 quilos de ouro, 3.500 quilos de prata e ainda 2.200 quilos de cobre e zinco.