Munir Baatur é candidato à presidência da Tunísia, um país altamente conservador que pune a homossexualidade com uma pena de até três anos de prisão, é um ato de coragem. O advogado de 48 anos, líder da Shams, uma organização de defesa dos direitos LGBTI, é o primeiro homossexual assumido a candidatar-se a um cargo de chefia num país árabe. A possibilidade de Baatur vir a conseguir um bom resultado nas eleições de outubro é, contudo, baixa. O Partido Liberal, que representa, tem pouca força política, mas isso não retira importância à iniciativa. Só em 2018, foram presas 130 pessoas com base na lei que criminaliza a homossexualidade.

Entrevistado pelo jornal El País, Baatur garantiu que a sua “orientação sexual não é um assunto relevante. Não questionam os outros candidatos sobre isso”. Não o incomoda que a comunicação social o refira, mas olha para si como um “simples candidato de um partido” e nada mais do que isso. Criado em 2011, o Partido Liberal Tunisino tem como prioridades a defesa dos direitos das minorias e a separação da religião da política.

As questões LGBTI fazem naturalmente parte da agenda política. O líder da Shams (as organizações LGBTI são legais na Tunísia desde 2011) pretende bater-se pela “abolição do artigo 239, que criminaliza a homossexualidade”. A luta será difícil. Uma sondagem feita pela BBC apurou que apenas 7% dos tunisinos consideram a homossexualidade “aceitável”. A percentagem é muito inferior à de outros países árabes, como a Argélia (26%), Marrocos (21%) ou Sudão (17%). Mas Baatur está confiante: “A sociedade tunisina vai adaptar-se às mudanças”, declarou, lembrando quando, em 1950, a poligamia foi banida apesar de uma maioria conservadora se ter mostrado contra a “mudança radical”.

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O ponto central do programa do advogado é, no entanto, a economia. O candidato ainda não formalizou a sua candidatura mas quer combater a economia paralela e a fuga ao fisco. Para que a sua candidatura possa avançar, precisa de reunir dez mil assinaturas — o que Munir Baatur garante estar em condições de apresentar quando o período de inscrição foi aberto.

Morreu o Presidente da Tunísia, aos 92 anos

As eleições presidenciais tunisinas, inicialmente marcadas para 17 de novembro, tiveram de ser antecipadas devido à morte do presidente Béji Caïd Essebsi esta quinta-feira, aos 92 anos. Essebsi foi o primeiro presidente democraticamente eleito em 2014, três anos depois da queda do regime de Zine el Abidine Ben Ali. O presidente era o chefe de Estado em exercício mais velho do mundo, a seguir à rainha Isabel II do Reino Unido.

O presidente do parlamento da Tunísia, Mohamed Ennaceur, foi nomeado presidente interino até que as eleições se realizem.