Morreu Ruth de Souza, atriz brasileira conhecida por papéis em telenovelas como “Sinhá Moça”. Tinha 98 anos e estava internada desde o início desta semana na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, devido a uma pneumonia, refere o Globo.

Nascida a 12 de maio de 1921, num bairro do Rio de Janeiro, filha de um agricultor e de uma lavadeira, Ruth de Souza foi a primeira atriz brasileira a ser nomeada para um prémio internacional de cinema — o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza de 1954 –, pelo filme “Sinhá Moça”, de Tom Paune. A longa-metragem, realizada em 1953, antecedeu a telenovela dos anos 80 que a tornou conhecida entre os portugueses.

[Ruth Souza fala sobre a participação na telenovela “Sinhá Moça”, que estreou em 1986 no Brasil:]

Souza é reconhecida como a primeira atriz negra do Brasil a construir uma carreira sólida, que atravessou vários géneros, como o teatro, o cinema e a televisão. Ao longo da sua vida, participou em mais de 30 filmes e mais de duas dezenas de telenovelas, incluindo “O Clone” (2001), onde fazia de Dona Mocinha. Rosto conhecido dos telespectadores, foi no entanto no teatro que se estreou, a 8 de maio de 1944, em O Imperador Jones, de Eugene O’Neil. A peça foi levada a cena pelo Teatro Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e Agnaldo Camargo.

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Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a subir ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e também a primeira a protagonizar uma telenovela, “Passos do Vento”, depois da sua entrada para o elenco da TV Globo, em 1968. O vínculo que firmou naquele ano com a Globo manteve-se até ao fim da sua vida. A última produção em que participou, no início deste ano, foi a minissérie “Se eu fechar os olhos agora”, produzido pelo canal de televisão.

Em entrevista ao jornal Globo em 2013, Ruth de Souza atribuiu o sucesso da sua longa carreira à generosidade dos outros. “Acho que as pessoas foram generosas comigo. Fiz teatro e cinema. Quando acabava um contrato, já surgia um outro convite e eu recomeçava a trabalhar no dia seguinte. Repito: nunca fiquei parada. E isso porque, antigamente, a cor da pele era uma característica muito marcante”, disse, acrescentando que, “hoje, graças a Deus, a situação melhorou”, em parte graças a ela.

A família espera poder realizar o velório no Teatro Municipal. “Ela merece essa homenagem da família, e os fãs também merecem, não é? Dar esse adeus para ela, porque a gente sabe que tem muita gente que gosta dela. (…) Minha tia foi uma pessoa muito importante para a família toda. Uma pessoa de muita garra, uma pessoa que sempre deu conselhos, presente demais na família. Era tipo a matriarca da família”, declarou Midori de Souza, sobrinha-neta da atriz, citada pelo Globo.