Numa altura em que a febre João Félix parecia estar a acalmar e já haviam passado três semanas desde que o jogador mais caro da história do Atl. Madrid foi apresentado no auditório do Wanda Metropolitano perante centenas de jornalistas de inúmeras nacionalidades, o jovem português fez questão de recordar que é o protagonista do negócio mais mediático do mercado de transferências que se aproxima do fim e um dos nomes mais antecipados da temporada que está prestes a começar. Depois de deixar boas indicações na estreia absoluta contra o Numancia mas sair lesionado logo à meia hora, Félix começou a cumprir tudo o que prometeu – e logo contra o Real Madrid. 

Num jogo em que o caráter particular e de pré-temporada acaba por ser esquecido e passado para segundo plano – apesar de tudo, é um dérbi de Madrid –, o internacional português já levava um golo e uma assistência aos dez minutos e só não foi a principal figura da partida porque Diego Costa decidiu marcar quatro dos escandalosos sete golos que o Atl. Madrid apontou ao Real. Se do lado do conjunto merengue soou uma espécie de alerta vermelho, ainda motivado pela memória recente de uma temporada quase embaraçosa que atirou o Real Madrid para fora de todas as corridas ainda em março, do lado colchonero avolumaram-se as já existentes esperanças de uma época bem sucedida onde as conquistas da liga espanhola e da Liga dos Campeões não estão fora do livro de encargos. A boa exibição de João Félix – que depois de em Portugal se estrear num dérbi lisboeta a marcar ao Sporting também marcou na estreia num dérbi da capital espanhola – reavivou o frenesim à volta do jogador português e deu ainda mais relevância à capa do jornal As desta segunda-feira, que é dedicada a uma entrevista com o jovem de 19 anos.

Um golo, duas assistências, a goleada histórica: a estreia de Félix no dérbi onde o Atlético esmagou o Real

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Na entrevista, Félix garantiu que está “bem” e “muito contente” com as primeiras semanas de trabalho no Atl. Madrid e sublinhou uma ideia que já tinha deixado patente no dia da apresentação: a de que, mais do que destacar-se a nível individualmente, quer ajudar o clube espanhol a alcançar os principais objetivos nos próximos anos. “Vou fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, jogar o melhor que conseguir para ajudar a equipa e o clube. O que mais destaco no Atlético é a paixão que existe, é como uma família, são os irmãos que dizem que são e pude ver isso nestes primeiros dias”, explicou o antigo jogador do Benfica, que repetiu também que a vontade de trabalhar com Diego Simeone foi um dos fatores chave para escolher os colchoneros.

João Félix revela que só falou com o treinador argentino uma vez antes de assinar pelos espanhóis mas que “foi suficiente”. “Disse-me que podia aprender muito, que podia crescer. E muitas outras coisas que ficam entre nós”, disse o jogador, garantindo depois que escolheu o Atl. Madrid em detrimento de outras propostas de gigantes europeus porque “é um grande clube” e “trabalha muito bem para formar jogadores”. A explicação de João Félix sobre o porquê de ter decidido rumar ao Atl. Madrid surge dias depois de o Don Balon revelar o teor de uma discussão entre Sergio Ramos e Zidane, no final da goleada sofrida pelo Real Madrid, onde o capitão merengue terá dito ao treinador francês que “o avisou” sobre a qualidade do português – numa quase reprimenda por este ter optado pela contratação do sérvio Luka Jovic ao Eintracht Frankfurt e ter desistido do agora médio rojiblanco numa fase ainda embrionária das negociações.

A exibição de Félix frente ao Real Madrid terá motivado uma discussão entre Sergio Ramos e Zidane no final do jogo

“Foi uma estreia de sonho, acabei o jogo muito contente, foi o meu primeiro dérbi e fazer o fiz neste jogo é um pouco difícil. Estou satisfeito por isso. Correu melhor do que aquilo que esperava. Não imaginava nada disto. Estou muito contente, ganhámos, mas é um jogo de pré-temporada e serve como trabalho de equipa”, disse Félix sobre o encontro com o Real Madrid, acrescentando que está “habituado” à pressão elevada do mundo do futebol apesar de ainda ser muito novo. “Tenho 19 anos mas esta é a minha profissão e estou habituado. As coisas são mesmo assim e eu sei disso. O meu primeiro ano com o Benfica não foi fácil, principalmente no início. Mas depois, com a ajuda dos meus colegas, tudo correu bem. Espero que também seja assim no Atlético”, atirou.

Sobre a possibilidade de não se integrar bem no futebol espanhol, devido à aparente fragilidade física, o jovem jogador tem poucos receios. “Nada me vai impedir de fazer o meu futebol. Posso não ter muito físico mas tenho outras coisas que os outros não têm. E isso vai ajudar-me muito”, garantiu, ressalvando ainda que não quer colocar desde já uma fasquia de golos que queira alcançar porque o objetivo é “ir pouco a pouco, jogo a jogo, golo a golo”. Sobre as conquistas com o Atl. Madrid, João Félix reconhece que “a Liga dos Campeões é um sonho de criança” e “seria incrível” ganhar a liga milionária com os colchoneros mas também lembra que a liga espanhola “é importante” e que o clube vai “lutar para a conseguir” – apesar de a Champions ser “outra coisa”.

Num plano mais pessoal da entrevista, o antigo jogador do Benfica conta que vive em La Finca, o bairro de luxo de Madrid onde Cristiano Ronaldo também vivia quando jogava no Real, com a mãe e um amigo, e garante que a decisão de utilizar o apelido da mãe ao invés do do pai – Félix e não Sequeira – é apenas por uma questão de simplicidade: “O do meu pai é maior. É curioso, mas não há mais nada por detrás disso. Não há nenhuma razão especial”. Além de explicar que quer “ganhar tudo” no Atl. Madrid, João Félix ainda disse que está ansioso por jogar no Wanda Metropolitano e sentir o apoio total dos adeptos. Isto numa altura em que em Lisboa e até no Estádio de Alvalade, ainda ninguém o esqueceu: este domingo, durante o jogo de apresentação do Sporting contra o Valencia, dois adeptos leoninos surgiram nas bancadas com camisolas do Atl. Madrid com o nome e o número do português. Félix reagiu nas redes sociais, partilhando as imagens, e comentou que “ainda está difícil lidar”.