Quando ouviu o seu nome ser pronunciado, deu uns passos em frente, agarrou no troféu e baixou a cabeça apoiada nele enquanto ouvia a introdução para uma entrevista e chorava. Lá atrás, as companheiras de equipa no All-Star Game batiam palmas e iam partilhando a emoção do momento. Um olhar para cima, o baixar da cabeça de novo. Aquele era o momento. O seu momento.

“Nunca se rendam. Nunca. Não interessa o que as pessoas dizem, temos de ir sempre para a frente. A minha mãe é a minha motivação, perdia-a com um cancro quando estava ainda no secundário mas tive de seguir em frente até porque sei que ela está sempre a olhar para mim, agora ainda mais. Isto é para ti mãe”. Com as lágrimas ainda a escorrer pela cara, Erica Wheeler voltou a olhar para cima, ergueu o troféu e voltou a ser saudada por um pavilhão rendido à ocasião. “Não consigo explicar… Eu pertenço aqui. O crédito está em todas estas jogadoras, que me disseram o fim de semana todo que pertencia aqui… Obrigado a todas. Isto dá-me ainda mais motivação e tenho de continuar a fazer mais”, acrescentou de seguida a olhar à volta.

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A jogadora de 28 anos tinha prometido um fim de semana inesquecível em Las Vegas, que acolheu o All-Star Game da WNBA. E cumpriu. Mas esse foi apenas o culminar de uma história que inspira o basquetebol feminino norte-americano.

Erica Wheeler foi a melhor marcadora da Team Wilson, terminando com 25 pontos na vitória por 129-126 (Ethan Miller/Getty Images)

Nascida na Flórida, Erica Wheeler cresceu num dos bairros mais perigosos e com maior criminalidade de Miami, o Liberty City, como descreve a ESPN. Quando era mais nova, chegou a ver duas das amigas mais próximas morrerem na zona. Encontrou no desporto uma espécie de escape mas foi apenas a segunda porta que tentou que se abriu: gorado o sonho de poder jogar futebol americano pelo facto de não ser rapaz, começou no basquetebol ainda no secundário. Nas Rutgers, em Nova Jérsia, descobriu o abrigo que lhe estabilizou uma adolescência difícil e teve a ajuda da treinadora da altura, Vivian Stringer, não só no basquetebol mas também na vida, sobretudo quando perdeu a mãe, Melissa, devido a um cancro e entrou numa profunda depressão que conseguiu superar com a sua técnica da altura, como explica uma reportagem de fundo do Indianapolis Star.

Teve a primeira experiência como jogadora no estrangeiro em 2013, ao serviço das Leonas de Ponce, passando depois por outras realidades como a Turquia (Mersin Kurtulus) e Brasil (Sport Recife). O facto de não ter sido escolhida no draft da WNBA nunca lhe quebrou a vontade de vingar na modalidade que adotou como sua e chegou a fazer alguns jogos pelas Atlanta Dream e as New York Liberty, antes de novas passagens por Porto Rico (Atenienses de Manati), Brasil (Sampaio), Espanha (Salamanca) e Turquia (Adana Mersin). Pelo meio, foi jogando na atual equipa da WNBA, as Indiana Fever, onde foi melhorando os seus números até se tornar indiscutível como se encontra nesta fase – o que lhe valeu o passe para o All-Star Game da WNBA. E a possibilidade de fazer história e tornar-se na primeira jogadora não escolhida no draft e ganhar o prémio de MVP com 25 pontos.