Milhares de estudantes saíram nesta terça-feira às ruas em Cartum e outras cidades do Sudão em protesto contra a morte de cinco estudantes, na segunda-feira, no centro do país, segundo as agências internacionais.

A morte dos cinco estudantes, na cidade de Obeid, no Cordofão do Norte, centro do país, levou à suspensão das negociações previstas para esta terça-feira entre o Conselho Militar e os líderes do movimento de contestação no Sudão.

Dois dos líderes do movimento, incluindo um dos negociadores, citados pela agência France-Presse, explicaram que se encontram em Obeid e que, por isso, as negociações não se realizarão.

Vários vídeos publicados online mostram milhares de jovens vestidos com uniformes escolares e de mochilas às costas a marcharem nas ruas de Cartum e em outras localidades para denunciar a morte dos cinco estudantes.

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O chefe do Conselho Militar, no poder, já condenou a morte dos cinco estudantes, classificando-a como “um crime inaceitável” que “não pode ficar impune”.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apelou às autoridades para que “investiguem e levem à justiça todos os autores da violência contra as crianças”, indicando que os manifestantes mortos tinham entram 15 e 17 anos.

Os manifestantes acusam as Forças de Reação Rápida, dirigidas pelo número dois da Junta Militar que lidera o país, Mohammed Hamdan Daglo, de ter disparado sobre a multidão que protestava contra a falta de pão e combustível na cidade de Obeid.

Cinco estudantes foram mortos, na segunda-feira, durante uma manifestação pacífica na cidade de Obeid, no centro do Sudão, segundo um comité de médicos próximo do movimento de contestação sudanês.

O mesmo comité deu ainda conta de um número indeterminado de feridos.

O Sudão vive envolto num movimento de contestação desde dezembro de 2018, desencadeado pelo triplicar do preço do pão, mas que se transformou em contestação ao regime e levou à destituição, em abril, do Presidente Omar al-Bashir, após 30 anos no poder.

A contestação manteve-se para reclamar um governo civil e melhores condições de vida para as populações mesmo depois da constituição de um Conselho Militar.

Em 17 de julho, os generais no poder e os líderes do movimento opositor concluíram, após difíceis negociações, um acordo sobre a criação de um Conselho Soberano composto por cinco militares e seis civis responsável por liderar o período de transição até à realização de eleições.

As duas partes retomam nesta terça-feira as negociações para acordar alguns pontos em suspenso, segundo anunciou, no domingo, o mediador da União Africana para o país, Mohamed al Hacen Lebatt.

Desde dezembro, a repressão da contestação causou 246 mortos, incluindo 127 manifestantes mortos em 03 de junho num acampamento em Cartum, segundo um balanço do comité de médicos divulgado antes das manifestações em Obeid.

As autoridades apresentam balanços divergentes e com números de mortos e feridos bastante inferiores.