A Polónia não quer mesmo que os seus jovens saiam do país. O governo polaco anunciou uma lei, que entra em vigor nesta semana e pretende atingir aproximadamente dois milhões de jovens, para criar uma situação menos favorável para a emigração, avançou a CNN.

A medida consiste em direcionar 18% dos impostos recebidos para os jovens, numa tentativa de parar o cenário da “fuga de cérebros” que o país enfrenta desde que entrou na União Europeia, 15 anos atrás, quando a Polónia integrou a União Europeia. São, aproximadamente, dois milhões de jovens que se qualificam para receber o subsídio.

Para receber parte desses subisídios a partir do dia 1 de agosto, é necessário ter menos de 26 anos e ganhar menos de 85,528 mil zlotys polacos, o equivalente a 19,9 mil euros, por ano. Considerando que o salário médio anual de um habitante fica por volta dos 60 mil zlotys (13,9 mil euros), a medida é generosa.

O primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki alertou, ao defender a lei no parlamento, que pelo menos 1,7 milhões de jovens polacos saíram do país, “é como se a toda a cidade de Varsóvia tivesse ido embora. É uma perda gigante”. O ministro adicionou ainda que “isto tem de acabar, os jovens têm de ficar na Polónia”, reportou a estação americana.

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No ano da entrada do país na UE, os dados mostravam um número de aproximadamente 700 mil pessoas a saírem para estudarem, enquanto em 2018, 14 anos depois, o número ronda os 1,7 milhões de pessoas. O pico, entretanto, foi observado em 2017, com 1,9 milhões de jovens a saírem para estudarem em universidades estrangeiras, segundo dados da Eurostat, quando meio milhão de jovens formaram-se em universidades polacas.

Os impactos, consequentemente, podem ser sentidos na economia. “Nos últimos três ou quatro anos, começámos a ver uma diminuição de trabalhadores e apercebemo-nos que precisamos destas pessoas de volta”, revelou à estação americana Barbara Jancewicz, chefe da Unidade de Pesquisa Económica da Migração, em Varsóvia.

A CNN também ouviu Kinga Kitowska, uma jovem polaca de 22 anos, que atualmente vive em Londres. A analista não concorda completamente com o subsídio: “Não é por aí que conseguirão manter os jovens no país”. Reitera que é preciso “construir oportunidades e abrir sectores atrativos aos jovens atuais”.

Especialistas em imigração também não se deixam convencer com a estratégia. “Não se trata apenas de dinheiro”, disse Heather Rolfe, líder dos Recursos Humanos do Instituto Nacional de Pesquisa Económica e Social, em Londres.

A Polónia é o segundo país da UE com os maiores índices de diplomados a morarem fora do território. São no total 724 mil polacos, seguidos pelos alemães, que rondam os 650 mil e os romenos, com 600 mil, segundo a Eurostat.

O Reino Unido é o país mais atrativo para os migrantes polacos: quase um milhão de pessoas vivem nos territórios britânicos. “A taxa de 18% é, sim, muito, mas não chega nem próximo do fosso formado entre os salários polacos e britânicos”, disse Jancewicz, mesmo que a jovem esteja “à procura de oportunidades e não dinheiro, no curto prazo”.

Ao mesmo tempo, o Brexit ameaça os números e o ambiente dos imigrantes no Reino Unido. A polícia britânica já registou maiores índices de crimes de ódio contra imigrantes e o número de polacos a entrarem no país já é menor do que os números dos polacos a saírem, revelou a CNN.

O partido do primeiro-ministro polaco, o PiS, ainda anunciou outros subsídios, como bónus nas pensões e benefícios para famílias com filhos, que irão custar aos cofres públicos 40 mil milhões de zlotys (9,3 mil milhões de euros), tornando-se alvo de críticas ao chamarem-no de “populista”.