Joe Biden, o antigo vice-presidente dos Estados Unidos da América, e considerado o favorito a candidato dos democratas às eleições presidenciais do próximo ano, foi o alvo das farpas dos nove rivais democratas no debate desta quarta-feira. Biden, de 76 anos e com uma carreira de 50, foi criticado por todas as frentes, em várias áreas: das relações inter-raciais, à justiça criminal e imigração.

Desta vez, e ao contrário do que aconteceu no primeiro debate, em junho, o ex-braço direito de Barack Obama soube responder aos ataques sobretudo da senadora californiana Kamala Harris, do senador por New Jersey Cory Booker, do ex-secretário da Habitação e Desenvolvimento Urbano Julian Castro ou o presidente da câmara de Nova Iorque Bill de Blasio.

Mas, tal como em junho, as divisões entre entre a ala mais radical e a mais moderada do partido vieram ao de cima, com o debate a começar com o que parecia ser um déjù-vu do confronto do mês passado entre Biden e Harris. Desta vez, sobre cuidados de saúde.

Kamala Harris voltou a defender um plano ‘Medicare-for-All’ — semelhante ao que Bernie Sanders já tinha apresentado, mas que será implementado em dez anos, expandindo o papel dos seguros privados. Logo aqui, Biden aproveitou a oportunidade, dirigindo-se aos norte-americanos. “Sempre que alguém lhe diz que vai demorar 10 anos para conseguir algo bom, deve sempre questionar-se porque é que vai demorar 10 anos”, disse.

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Harris não perdeu tempo: “Você é simplesmente impreciso”, respondeu-lhe, acrescentando que a proposta para a saúde de Biden deixaria de fora perto de 10 milhões de americanos. “Em 2019 na América, um democrata que se candidate a presidente com um plano que não abranja todos… acho que não tem desculpa”.

Na imigração, nova ronda de ataques a Joe Biden, com os adversários a lembrar que o ex-vice-presidente foi o número 2 de Obama, nomeadamente na deportação de imigrantes sem documentos — que, acusaram os rivais, prejudicou mais imigrantes do que Donald Trump. Também nesta frente, o ex-secretário da Habitação e Desenvolvimento Urbano de Barack Obama, Julian Castro, passou ao ataque. E, mais uma vez, contra Joe Biden. “A questão da abertura de fronteiras é um foco de discussão da direita”, disse. ”E, francamente, estou desapontado que algumas pessoas, incluindo algumas pessoas neste debate, tenham caído na armadilha”.

Biden recusou a crítica e sublinhou que nunca antes ouvira as acusações de Castro sobre a política de imigração enquanto pertencia à administração de Obama. “Parece que alguns apreenderam as lições do passado e outros não”, respondeu-lhe Castro.

Também Cory Booker, senador de Nova Jersey, acusou Biden de se vincular constantemente a Barack Obama. “Não pode fazê-lo quando é conveniente para si e depois evitar quando o não é”, disse Booker, que encostou o rival à parede por este ter votado, em 1994, a favor de leis severas de combate ao crime que resultaram no encarceramento desproporcional de negros americanos.

Se no debate do dia anterior, Bernie Sanders e Elizabeth Warren defenderam uma viragem à esquerda no partido, neste debate, o último antes de setembro, foi evidente o fosso de opiniões, com um atirar de farpas constantes, e acusações mútuas de cinismo.