Jorge Jesus tem vivido um autêntico carrossel de emoções desde que assumiu o comando do Flamengo, numa paixão pela equipa que não liga muito ao passado nem reflete muito sobre o futuro. Como o próprio treinador descreveu, “não é um clube, é uma religião”. E uma religião que tão depressa cativa os devotos com uma goleada, como aconteceu frente ao Goiás, como os leva a ir protestar no aeroporto por causa de uma eliminação na Taça do Brasil nas grandes penalidades quatro dias depois com o Athl. Paranaense. Para o bom ou para o mau, estão lá. E voltaram a estar antes da missão impossível na Taça dos Libertadores.

A chegada do autocarro ao Maracanã teve um autêntico festival de tochas vermelhas e cânticos de um mar de gente que engoliu a viatura nos últimos metros quase que agarrando na equipa e colocando-a no campo disponível a tudo para manter o sonho de voltar a ganhar a principal competição da América do Sul. A desvantagem de 2-0 que trazia do Equador frente ao Emelec não era decisiva mas tinha o seu peso. Quase prolongando essa manifestação de apoio cá fora, foi anulada em 20 minutos lá dentro.

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Depois de um remate de Willian Arão logo aos 23 segundos, Éverton Ribeiro teve ainda uma boa iniciativa da direita para o centro com a tentativa a sair fraca (3′) e Gabriel Barbosa, isolado na área, permitiu duas intervenções enormes de Esteban Dreer que foi conseguindo adiar o golo inaugural perante a total incapacidade da equipa em passar sequer do meio-campo (5′). Não foi aí, foi cinco minutos depois e com o mesmo protagonista: Gabigol converteu uma grande penalidade cometida (ou ganha) por Rafinha e fez o 1-0, bisando ainda antes dos 20 minutos iniciais com um remate de pé esquerdo na área após grande iniciativa de Bruno Henrique pela esquerda a passar pelo lateral Romário Caicedo antes de ganhar a linha de fundo e cruzar (19′).

O mais difícil estava feito, o ritmo de jogo acabou por baixar de forma natural e, após o intervalo, foi o Emelec a ter mesmo a primeira grande oportunidade, com Queiroz a atirar a rasar o poste de Diego Alves numa segunda bola (47′). Thuler, num canto com desvio ao primeiro poste, ainda teve o 3-0 nos pés mas atirou por cima (61′) antes de um período onde os equatorianos começaram a encaixar melhor no jogo do Flamengo, condicionando a primeira fase de construção com Gerson e mantendo o perigo longe da baliza de Dreer aproveitando também uma ligeira quebra física do Flamengo que se ia acentuando.

Três jogos depois, a primeira manif: Jesus sai do autocarro para falar com adeptos em protesto no aeroporto

Arão, com uma remate de fora da área que saiu perto da trave dos visitantes, e Bruno Henrique, numa fantástica jogada (mais uma) pela esquerda onde foi passando adversários em velocidade até rematar na área com desvio para canto, mostraram que os brasileiros queriam fechar as contas evitando o desempate por grandes penalidades mas as pernas nem sempre respondiam ao que era pensado pela cabeça e o 2-0 acabou por se manter até ao final dos 90 minutos, colocando o conjunto do Rio de Janeiro de novo na decisão por penáltis depois da derrota com o Athl. Paranaense para a Taça do Brasil.

Gabriel Barbosa manteve o pé quente com o Emelec, tendo tantos golos como jogos desde que Jesus chegou ao Fla (Bruna Prado/Getty Images)

Nos minutos que se seguiram, enquanto Jesus reuniu toda a equipa perto da zona do banco para as últimas indicações antes do desempate, as imagens iam mostrando nas bancadas inúmeros cartazes e cachecóis com a palavra “Fé”, acompanhadas por rezas e outros tipos de superstições que faziam jus a uma tarja que foi sendo focada ao longo de todo o encontro: “Se não foi sofrido, não é Flamengo”. E foi mesmo assim, com Diego Alves – que ficou conhecido nos dez anos que esteve em Espanha entre Almería e Valencia por defender grandes penalidades – a travar a tentativa de Arroyo antes de Queiroz acertar na trave (4-2).

O Maracanã, com mais de 67 mil espetadores, explodiu em festa e Reinier, jovem de apenas 17 anos lançado pelo português para o lugar de Gabriel Barbosa, foi o primeiro a atirar-se para cima dos adeptos na bancada. Na véspera do jogo, os adeptos tinham levado ao Ninho do Urubu, coração do futebol do Flamengo, um padre (Heitor Utrini) para quebrar a maldição das lesões e colocar a equipa no caminho do sucesso. A primeira etapa já está cumprida e, depois da derrota no Equador, o conjunto carioca assegurou a passagem aos quartos da Libertadores, tendo agora pela frente os também brasileiros do Internacional.