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O que interessa saber

Nome: Restaurante Pedro Limão
Abriu em: Junho de 2019
Onde fica: Rua Morgado Mateus, 51 – 53, Porto
O que é: A última aventura com assinatura de Pedro Limão, onde a sua cozinha se torna simples e minimalista, mais focada no produto, e tem como vizinho um projeto de alojamento local comandado pelo próprio.
Quem manda: Pedro Limão, chef natural Viana do Castelo radicado no Porto
Quanto custa: 43€, menu de degustação
Uma dica: A zona junto à entrada é perfeita para petiscar ou brindar ao final do dia e no balcão são confecionados os pratos frios. Se preferir um recanto mais sossegado, sente-se no pátio situado nas traseiras e veja a olho nu tudo o que se faz na cozinha.
Contacto: 96 645 4599
Horário: De segunda a sábado, das 19h30 às 23h30; a partir de setembro: de quinta a terça, das 14h às 23h
Links importantes: Site Facebook 

Pedro Limão tem bichinhos carpinteiros e não consegue estar muito tempo parado. Depois de ter aberto a Oficina de Cozinha nas Virtudes, entre 2012 e 2014, e uma loja de comida em vácuo nas Galerias Lumière, em 2016, o chef natural de Viana do Castelo partiu para o Algarve para desenvolver o restaurante da unidade hoteleira Casa Mãe. Regressou ao Porto um ano depois para inaugurar um espaço em nome próprio, em abril de 2017, na zona de Belas Artes. Recentemente mudou-se, literalmente, para a porta ao lado com um novo conceito e tomou conta do prédio inteiro, onde no rés-do-chão funciona o restaurante, ainda em fase de soft opening, e os restantes pisos vão dar lugar a seis apartamentos, de estúdios a T1, com capacidade para acolher até 14 pessoas. “Associar a gastronomia ao alojamento já me tinha passado pela cabeça muitas vezes e a passagem pelo Algarve foi importante nisso, porque trabalhei num projeto que tinha as duas coisas e percebi que havia potencial para explorar isso”, explica em entrevista ao Observador.

O objetivo é trabalhar o projeto com base no alojamento, que deverá estar pronto no próximo mês, e numa maior proximidade com o cliente. “O meu sonho é deixar de ter um restaurante, mas isso não significa que eu deixe de trabalhar a gastronomia, antes pelo contrário. A minha ideia é ter uma proximidade cada vez maior com o cliente, pois num típico projeto de restauração que isso não acontece.” O chef considera que existe uma lacuna nesse aspeto e que hoje a relação com o cliente está “mais desvalorizada” pela demasiada oferta que existe na cidade. “Há uma hiper expectativa em relação a tudo, as pessoas já não passam e entram, têm de fazer sempre uma reserva. No meu ponto de vista, torna-se uma relação difícil de gerir.”

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Pedro Limão quer intensificar o conceito de restaurante como casa, explorando um sentimento de pertença junto do público, usando o edifício como um todo. “Uma coisa é ter as pessoas aqui duas horas e meia a comer, outra é tê-las aqui a viver.” Para isso, pretende que as pessoas aluguem o espaço “não só pela cama, mas pela comida” e que o seu dia seja preenchido com atividades relacionadas com a gastronomia. Do cesto do pequeno almoço com a receita para os próprios hóspedes prepararem, um menu de degustação confecionado no apartamento, workshops e jantares com produtores e fornecedores são apenas algumas iniciativas reveladas pelo responsável. “Não estamos a falar de room service, estamos a falar de uma experiência diferente, onde o check in é feito com um copo de vinho e um petisco”, sublinha, acrescentando que já tem planeado um roteiro pelo norte do país, onde o próprio irá conduzir o veículo que levará os hóspedes a conhecerem as quintas e as casas dos seus fornecedores, bem como projetos e marcas novas.

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Um espaço maior e um menu simplificado

A nova morada de Pedro Limão foi durante muitos anos um restaurante clandestino, mas o edifício encontrava-se agora devoluto e em ruínas. Depois de falar com o senhorio, o chef percebeu que o edifício ainda não tinha destino e decidiu instalar-se por lá. O novo restaurante tem 35 lugares, um pátio nas traseiras e a decoração é dominada por madeiras claras e tons pastel, onde saltam à vista o balcão junta à entrada, as cabeças de animais pregadas nas paredes ou o quadro inspirado em fungos feito em tapeçaria. “Ali ao fundo ainda quero ter um busto meu”, diz.

Ainda a funcionar em soft opening, o chef adianta que a intenção é “evoluir a cozinha no sentido de a simplificar”. “A nossa filosofia gastronómica não se alterou, o que vai alterar é o modelo.” Fazer uma viagem de norte a sul do país é o que propõe a cozinha autoral de Pedro Limão, que agora prefere fazê-lo de uma forma mais livre e espontânea.

“A ideia é fazer na mesma essa viagem, mas sem estar tão preso à métrica do empratamento. Ir mais pelo produto e não tanto pela questão estética, ir mais pela atividade do dia a dia da cozinha e pela inspiração de quem aqui trabalha do que pelo menu já estabelecido. O cliente gosta disso.”

Apostar em pratos mais minimalistas, onde o desafio se centra em desconstruir o produto, é uma das premissas desta nova etapa, tendo como matéria prima apenas ingredientes nacionais, das plantas salgadas da Ria Formosa ao tomilho do Barrocal, passando pelos azeites do Douro, Trás-os-Montes ou Serpa.

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Além do ovo a 68º, do peixe do dia com tapioca e poejo, da barriga de porco & Marshmallow, das pétalas de presunto bísaro com cura de 38 meses, do pastrami com arroz de queijo ou do chocolate com ameixa e pimenta, na carta consta ainda um prato de mono produto que vivia na cabeça de Pedro Limão há dois anos. Chama-se “Só Batata?” e inclui diferentes variedades, cozeduras, cortes e técnicas, que podem ir de uma maionese feita com o óleo de fritar batatas ao simples vitelotte. “Da batata doce à roxa, cada tipo sugere um determinado tipo de preparação”, explica o chef, admitindo que a carta pode sofrer alterações no futuro.

Nada em Limão é definitivo, fechado ou consumado. A mudança e a necessidade de se reinventar fazem parte do seu ADN, prova disso é a urgência que sente em fazer coisas novas e de brincar com conceitos. “Agora tenho que ter mais cuidado porque tenho uma família maior, agora brinco de uma forma mais consciente”, diz, não pondo de lado a hipótese de “daqui a dois ou três viver das brincadeiras com o alojamento”. Para sempre é o seu casamento com os tachos. “Não me quero divorciar da gastronomia nunca.”