Em menos de 24 horas, os Estados Unidos foram abalados por dois tiroteios que fizeram, pelo menos, 32 mortos. O primeiro — e também o mais mortal — aconteceu no sábado de manhã junto a um complexo comercial em El Paso, no estado do Texas, e tirou a vida a 22 pessoas, ferindo outras 26. Já na madrugada de domingo outro tiroteio, agora em Ohio, causou a morte de 10 pessoas, atirador incluído, e feriu outras 16. Entre as vítimas está a irmã do atirador.

Ambos os ataques foram realizados por jovens brancos norte-americanos: Patrick Crusius, suspeito de ser o autor do primeiro tiroteio, queria “matar o maior número possível de mexicanos”, e Connor Betts assassinou a irmã mais nova no decorrer do segundo ataque. Afinal, quem são os atiradores que este fim de semana deixaram os EUA em choque e fizeram soar as vozes dos democratas que apontam o dedo aos discursos “racistas” de Trump?

Patrick Crusius: “O meu objetivo era matar o maior número possível de mexicanos”

Patrick Crusius, de 21 anos, é suspeito de ter assassinado pelo menos 22 pessoas num tiroteio nas imediações de um centro comercial em El Paso, no estado norte-americano do Texas, no sábado. Uma hora e meia antes do ataque que deixou ainda 26 feridos, o jovem publicou um manifesto na internet em que assegurava que ia dar “uma resposta à invasão hispânica no Texas”. “O meu objetivo era matar o maior número possível de mexicanos”, é uma das frases declaradas por Crusius após ter sido detido pelas autoridades.

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O manifesto acima citado foi publicado no site 8chan, uma página onde não existe censura e onde também são divulgados outros conteúdos extremistas. Nesse documento, o suspeito do ataque fazia referência à “Great Replacement”, teoria de conspiração supremacista branca que defende que as pessoas de ascendência europeia estão a ser substituídas. O tiroteio está a ser investigado pelas autoridades competentes enquanto terrorismo doméstico e possível crime de ódio.

O documento em questão foi publicado por um utilizador anónimo que também divulgou outro documento com o nome “P._Crusius”, ficheiro que foi entretanto eliminado, não sendo claro o seu conteúdo. O Los Angeles Times acrescenta que uma conta de Twitter aparentemente de Crusius foi também eliminada na noite de sábado, conta cujos tweets elogiavam o presidente Donald Trump, em particular os seus esforços para erguer uma muralha na fronteira dos EUA com o México.

EUA. Democratas apontam “racismo” de Trump como causa do tiroteio em El Paso

Descrito pela polícia e também por vários líderes políticos como um jovem “cheio de ódio e racista”, Crusius entregou-se às autoridades após o tiroteio num supermercado Walmart. Ainda que as autoridades não tenham confirmado publicamente a sua identidade, já existe alguma informação sobre o suspeito a circular em diferentes meios internacionais: segundo o El Mundo, o jovem em questão vive num subúrbio de Dallas e frequentou o Liberty High School, sendo que em 2017 entrou para a Collin College, um colégio comunitário no estado do Texas.

Segundo uma vizinha do jovem, de nome Leigh Ann Locascio, Crusius é tido como uma pessoa muito solitária e sentava-se sempre sozinho no autocarro, tanto no secundário como na preparatória. Descreve-o ainda como sendo um jovem “muito distante”, que “não interagia com ninguém”. O seu filho, Tony Locascio, ia regularmente com ele para a escola. Tony contou, citado pelo Los Angeles Times, que Crusius só andava à frente ou atrás dele, e nunca interagia com as outras pessoas. Gostava de ter cobras enquanto animais de estimação. “Ele não falava com as pessoas. Ninguém o conhecia a sério”, afirmou o jovem agora com 20 anos.

Já o ex-colega de turma Jacob Wilson afirmou que os outros alunos recusavam-se a trabalhar com ele porque Crusius estava sempre “irritável” e também de “mau humor”, além de ser mal falado pelos colegas da escola.

Patrick viajou de carro durante nove horas até ao local do massacre. O jovem de 21 anos morava no bairro de Allen, um subúrbio a sul e a cerca de nove horas da cidade onde ocorreu o massacre. Segundo o El País, que citou vários vizinhos do suspeito, Crusius era “um homem muito solitário e distante”, que vinha sempre sozinho no autocarro.

Connor Betts: o suspeito de assassinar nove pessoas, incluindo a irmã, que fez uma lista das pessoas que queria matar

Durante o dia de domingo, 4 de agosto, as autoridades identificaram Connor Betts, um jovem branco de 24 anos, como sendo o responsável pelo tiroteio que nesta madrugada (06h em Portugal) ocorreu na zona de Oregon District, da cidade de Dayton, no estado do Ohio. Deste ataque resultou a morte de dez pessoas (atirador incluído), além de 27 feridos, no espaço de apenas um minuto. Entre as vítimas mortais está a irmã do principal suspeito.

De acordo com o El Mundo, os motivos por detrás do tiroteio ainda não são claros, o qual aconteceu apenas 12 horas após aquele que tirou a vida a 22 pessoas junto a um complexo comercial em El Paso. Betts, que foi abatido pelas autoridades na sequência do tiroteio, não tinha antecedentes criminais — a Newsweek fala apenas em duas multas por excesso de velocidade datadas de 2013 e 2014. Betts estava registado para votar e a sua filiação partidária era democrática.

No LinkedIn, descrevia-se como sendo “bom sob pressão” e “rápido a aprender”. Sabe-se agora que Betts estudou psicologia no Sinclair Community College, segundo um comunicado divulgado nas redes sociais esta noite pelo próprio instituto. Apesar de ser estudante, Connor Betts não se matriculara este verão.

“Our hearts are broken for so many members of this wonderful community this weekend. A senseless tragedy occurred in our…

Posted by Sinclair Community College on Sunday, August 4, 2019

Connor, conta a CBS, tinha também uma “lista” de ex-colegas de escola que queria ferir ou matar e uma outra lista das mulheres que pretendia agredir sexualmente. A revelação foi feita por dois antigos colegas do jovem, que acrescentaram que Connor, na altura, foi suspenso durante um ano depois de as listas serem encontradas. Segundo as autoridades, ainda não são claros os motivos que levaram ao massacre, mas sabe-se que o jovem tinha problemas no instituto e um histórico de ameaças a mulheres que o rejeitaram.

O suspeito usou uma caçadeira de assalto de calibre .223, tinha vestido um colete anti-balas, e matou nove pessoas, incluindo a irmã de 22 anos, Megan Betts, que foi encontrada num carro junto a um homem que crê ser o seu namorado.