O número de pessoas que tem recorrido a consultas em hospitais fora da sua área de residência para fugir às listas de espera tem aumentado substancialmente, de acordo com os dados enviados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) ao Jornal de Notícias. Só no primeiro semestre deste ano terá havido um aumento de 20% deste tipo de pedidos quando comparado com o mesmo período do ano passado, segundo conta o JN esta segunda-feira (link para assinantes).

O sistema de Livre Acesso e Circulação (LAC) de utentes no Serviço Nacional de Saúde foi criado em 2016 e tinha como objetivo agilizar a resposta aos pedidos de consulta em hospitais públicos. Desde então, o número de pedidos feitos em conjunto pelo utente e o seu médico de familia para marcar consulta num hospital que não o da sua área tem vindo sempre a aumentar. Em 2016, 10,2% de todos os pedidos de consulta foram deste tipo. No ano seguinte, o valor subiu para os 11,1% e, em 2018, atingiu os 12,5%. Nos primeiros seis meses deste ano, o valor já ia em 14,5%, o equivalente a 132.030 pessoas. De acordo com as contas do JN, o valor corresponde a um aumento de 20% face ao mesmo período do ano anterior.

A medida é apontada como positiva por órgãos como a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), mas os especialistas também apontam efeitos negativos como a sobrecarga em determinados hospitais como os centrais de Lisboa e Porto, sobretudo em determinadas especialidades: “A medida é boa, o problema foi a incapacidade dos hospitais se adaptarem ao aumento da procura, por limitações nos recursos humanos”, declarou ao JN Alexandre Lourenço, presidente da APAH.

A informação enviada pela ACSS ao diário dá conta de que os centros hospitalares mais sobrecarregados são Lisboa Norte, Lisboa Central, Porto e São João. As especialidades em que há mais fuga às listas de espera são oftalmologia, ortopedia, dermatovenereologia e otorrinolaringologia. Ao JN, o ex-secretário de Estado da Saúde Fernando Araújo, atual presidente do hospital de São João, confirmou que há especialidades naquele hospital onde a procura aumentou 30%. Como consequência, os tempos de resposta também aumentaram.

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