Há quem nasça destinado a ser notícia. E Malcom, jogador brasileiro de 22 anos, parece ser um desses casos. Há pouco mais de um ano, depois de dar nas vistas ao longo de três temporadas nos franceses do Bordéus, o avançado começou a ser associado a vários gigantes europeus, impressionados principalmente com os 12 golos que o brasileiro marcou durante 38 jogos em 2017/18 ao serviço de uma equipa que anda há muito arredada das grandes decisões em França. Ora, os italianos da Roma adiantaram-se na corrida por Malcom, acordaram pagar 32 milhões de euros e o Bordéus anunciou de forma oficial que o brasileiro ia rumar a Itália.
Tudo mudou quando, apenas um dia depois, o Barcelona anunciou que Malcom era o mais recente reforço dos catalães. A Roma foi apanhada de surpresa, os adeptos da equipa da capital italiana também e o Bordéus apressou-se a esclarecer que o Barcelona se tinha intrometido na corrida e superado a proposta dos rossoneri. O golpe do verão estava dado e Malcom rumou à Catalunha e a Camp Nou: esteve em 24 jogos ao longo da temporada, marcou quatro golos e foi campeão espanhol. Passou mais de um ano desde a inesperada reviravolta de acontecimentos – e a nova transferência de Malcom está novamente a merecer destaque na imprensa internacional.
No seguimento de uma época em que o Barcelona conquistou a liga espanhola mas falhou novamente o objetivo que continua a ser a Liga dos Campeões – graças à remontada histórica do Liverpool em Anfield que anulou um 3-0 em Camp Nou –, Malcom acabou por ser o sacrificado dos elementos mais ofensivos do plantel de forma a equilibrar as contas. Com a chegada de Griezmann, a permanência de Dembélé, os indiscutíveis Messi e Suárez e o caso de Philippe Coutinho ainda por resolver, os catalães cederam o brasileiro ao Zenit por 40 milhões de euros. Na estreia, este sábado contra o Krasnodar (que é também o adversário do FC Porto na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões), Malcom foi suplente utilizado e a receção dos adeptos russos ao novo reforço esteve longe de ser a melhor.
“Obrigada aos dirigentes por respeitarem as nossas tradições”, podia ler-se numa tarja irónica levantada pela claque mais extremista do Zenit na altura em que o avançado brasileiro entrou no relvado. Num comunicado oficial divulgado já depois do jogo, a claque do clube russo explicou que o Zenit tem como “tradição” não contratar jogadores negros e é conhecido por isso “no mundo inteiro” e que a decisão da atual direção de apostar em Malcom foi uma falta de respeito para com os adeptos. Numa espécie de resposta oficiosa, o clube recorreu ao Twitter para partilhar um vídeo do momento da entrada do avançado em campo com a legenda “54.078 pessoas a aplaudir em conjunto o nosso novo reforço, Malcom. Vejam por vocês mesmos, não pelas palavras de outros”.
54,078 people cheering together for our new man Malcom. See for yourself, not through the words of others #DavaiMalcom pic.twitter.com/N0SHlNcBWj
— FC Zenit in English? (@fczenit_en) August 4, 2019
A ressalva do Zenit não impediu o Mundo Deportivo de avançar, logo nas primeiras horas desta segunda-feira, que o clube já ponderava vencer o brasileiro para respeitar o pedido dos adeptos e não criar cisões internas. O jornal espanhol, que citava a agência estatal russa, garantia que Malcom seria colocado no mercado já em janeiro por “problemas relacionados com racismo”. Horas depois de a notícia ser publicada, e tal como havia feito logo depois do comunicado da claque, o Zenit apressou-se a negar os rumores de que já planeia a venda do jogador e garantiu que o brasileiro é “um grande reforço”. Quer saia já em janeiro quer fique na Rússia, a verdade é que Malcom, um ano depois de um dos maiores golpes de teatro dos últimos tempos, volta a ser notícia por motivos pouco habituais.