O Governo chinês disse esta terça-feira que “não vai ficar de braços cruzados” e que vai tomar contra-medidas caso os Estados Unidos instalem mísseis de médio alcance na região do Indo-Pacífico, como está planeado para breve.

A advertência do diretor do Departamento de Controlo de Armas do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Fu Cong, surge após a retirada dos EUA, na semana passada, do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF, na sigla em inglês).

Fu disse que aquela decisão terá um “impacto negativo direto na estabilidade estratégica global” e na segurança da Europa e da região da Ásia-Pacífico.

O responsável afirmou que a China está particularmente preocupada com os planos anunciados para desenvolver e testar um míssil terrestre de alcance intermédio na região da Ásia-Pacífico “mais cedo ou mais tarde”, citando as palavras do secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper.

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“A China não vai ficar de braços cruzados e será forçada a tomar contra-medidas, caso os EUA usem mísseis terrestres de alcance intermédio nesta parte do mundo”, disse Fu, numa conferência de imprensa.

O mesmo responsável aconselhou outras nações, particularmente a Coreia do Sul, Japão e Austrália, a “exercitarem prudência” e não permitirem que os EUA instalem os mísseis nos seus territórios, afirmando que “não servirá os interesses de segurança nacional desses países”.

Esper disse no fim de semana que quer instalar mísseis convencionais de médio alcance na região Ásia-Pacífico dentro de alguns meses.

Fu disse ainda que a China não tenciona integrar as negociações com EUA e Rússia para reduzir armas nucleares, apontando a “enorme lacuna” entre o arsenal atómico do país em comparação com os outros dois.

A China tem cerca de 290 ogivas nucleares, em comparação com 1.600 da Rússia e 1.750 dos EUA, segundo estimativas da Federação de Cientistas Americanos.

O Presidente russo, Vladimir Putin, apelou a negociações urgentes para o controlo de armas, visando evitar uma corrida caótica às armas, após o fim do tratado. Putin disse que a Rússia só instalaria novos mísseis de alcance intermédio se os Estados Unidos o fizerem.

A China já demonstrou “moderação máxima” no desenvolvimento do seu arsenal e manteve a política de que não será a primeira a usar uma arma nuclear em caso de conflito, disse Fu. “Não acho razoável ou mesmo justo esperar que a China participe de uma negociação de redução de armas neste estágio”, disse Fu, acrescentando que o país continua comprometido com os esforços multilaterais para reduzir o arsenal nuclear.

Fu não detalhou quais contra-medidas a China está a considerar contra os EUA, dizendo apenas que “tudo está sob a mesa”, embora tenha afirmado que a China nunca irá participar numa corrida às armas atómicas.

Fu rejeitou os argumentos dos EUA para rasgar o tratado como desculpa para desenvolver novas armas. Caso Washington realmente acredite que a Rússia está a infringir o tratado, o caminho a seguir é negociar em vez de se retirar, disse Fu.

Sobre o argumento de Washington de que está sob ameaça da China porque 80% ou mais dos mísseis chineses são da categoria de alcance intermédio, Fu lembrou que esses mísseis não alcançam o continente norte-americano.

Assinado pela Rússia e pelos EUA em 1987, o INF expirou na sexta-feira passada, após Washington ter rejeitado a renovação, apontando alegadas violações do pacto pela Rússia.

Moscovo negou ter violado os termos do tratado.