O quotidiano da lixeira da capital cabo-verdiana, e dos cães e vacas que ali procuram alimento, voltou nesta quarta-feira a ser alterado, pela segunda vez em seis meses, com dezenas de militares e polícias a queimarem duas toneladas de cocaína.

Numa operação rodeada de fortes medidas de segurança, inclusive com atiradores especiais a verificarem o perímetro da lixeira municipal, nos arredores da cidade da Praia, pouco mais de 2.256 quilogramas de cocaína começaram a ser incineradas ao final da manhã.

As duas toneladas de droga foram apreendidas numa operação realizada pela Polícia Judiciária (PJ) de Cabo Verde no sábado e somam-se aos 9.570 quilogramas de cocaína destruídas, da mesma forma e na lixeira, em 02 de fevereiro último.

Para o diretor da PJ, António Sebastião Sousa, estas duas operações, que totalizam quase 12 toneladas de cocaína apreendidas em embarcações em seis meses, com cinco brasileiros detidos no sábado e 11 russos em fevereiro, representam o exemplo que Cabo Verde pretende dar no combate ao tráfico de droga.

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“Efetivamente, Cabo Verde passa uma boa imagem, de que está a participar, ativamente, nesse combate global contra o tráfico de estupefacientes internacional”, afirmou António Sebastião Sousa, questionado pela Lusa durante a incineração da droga apreendida no sábado, na operação “Constância”.

Cabo Verde, tido como país que está na rota do tráfico internacional de droga por via marítima, assume com estas operações, face aos acordos e convenções que ratificou, “o dever de participar” num “combate global”, contando para tal com a “colaboração internacional”, acrescentou.

“Esta droga não tem valor económico. Devemos falar, na questão do valor, no mal que o produto causa à sociedade, em questões de saúde e do ponto de vista da criminalidade”, disse ainda, recusando quantificar o valor da droga apreendida e agora destruída.

A operação desta quarta-feira arrancou cerca das 09h30 locais (11h30 em Lisboa), com o transporte dos mais de 2 mil pacotes de um quilograma de cocaína, distribuídos por quatro viaturas da PJ fortemente armados, até à lixeira, a alguns quilómetros do centro da Praia, sempre sob escolta policial e de militares.

Já na local, por entre as dezenas de cães e vacas que ali vasculham alimento no lixo, a droga levou mais de duas horas a ser verificada e pesada por elementos do Ministério Público, antes de começar a ser queimada, juntamente com pneus e madeira.

Pouco depois, o fogo provocou um enorme manto de fumo preto visível a alguns quilómetros de distância.

À operação desta quarta-feira assistiu igualmente uma representante do Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC, na sigla inglesa).

A apreensão desta droga foi feita por elementos da Secção Central de Tráfico de Estupefaciente da PJ, em conjunto com a Guarda Costeira, no sábado, a bordo da embarcação “Perpétuo Socorro de Abaete II”.

Segundo a PJ, esta operação foi desenvolvida na sequência de troca de informação operacional com a agência MAOC–N (Maritime Analysis and Operations Centre — Narcotics), com sede em Lisboa, e contou ainda com a cooperação da Polícia Federal do Brasil.

Entretanto, o Tribunal da Praia decretou na segunda-feira a prisão preventiva aos cinco cidadãos brasileiros detidos na operação, no sábado.

Com a segunda operação do género em meio ano, o diretor da PJ defendeu, questionado pelos jornalistas, que é tempo de construir uma incineradora em Cabo Verde para este efeito.

“Temos pensado nisso. É uma questão que envolve custos”, disse, admitindo que é necessário encontrar “parceiros” nacionais e estrangeiros para financiar esse equipamento.

António Sebastião Sousa admitiu que se tem trabalhado nesse sentido, mas infelizmente “não tem sido possível”.

“Mas é nosso desejo e também faz parte da proteção do meio ambiente e nós temos que ter isso em mente e urgência nesse sentido”, sustentou.