Um Brexit sem acordo poderá causar “escassez” e “perturbações graves” no fornecimento de alimentos ao Reino Unido, alertou nesta quarta-feira uma organização britânica que representa o setor.

“O setor da alimentação é muito claro ao dizer que uma saída sem acordo representa um resultado desastroso, mas nunca dissemos que o país vai passar fome. Vai haver alguma escassez selecionada e esta será, até certo ponto, aleatória porque depende de quais camiões passam e quais não”, disse esta quarta-feira à rádio BBC Radio 4 Tim Rycroft, presidente da Federação de Alimentos e Bebidas, que representa cerca de 7 mil empresas.

Este responsável está convencido de que vão existir “perturbações graves” durante semanas ou meses após a saída britânica da União Europeia (UE), prevista para 31 de outubro, devido à burocracia e necessidade de controlos aduaneiros adicionais para o transporte, pois o Reino Unido deixará de fazer parte do mercado único.

A UE anunciou que, no caso de um Brexit sem acordo, pretende implementar imediatamente controlos alfandegários, inspeções de segurança alimentar e verificações das normas europeias nas suas fronteiras com o Reino Unido, o que poderá fazer demorar a passagem de produtos agro-alimentares entre o Reino Unido o resto da Europa, feita maioritariamente através do Canal da Mancha.

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As perturbações poderão ser “mitigadas levemente pela acumulação de reservas nas primeiras semanas, mas com alimentos frescos não pode durar muito tempo”, vincou Rycroft.

Referiu ainda que a data do Brexit é a “pior altura” do ano para o setor de alimentos devido à necessidade de reforçar as reservas com alimentos para a época do Natal, o que levou a Federação de Alimentos e Bebidas britânica a pedir ao governo que implemente medidas especiais e exonere as empresas das leis sobre a concorrência que impedem uma coordenação em termos de armazenamento e preço.

O Reino Unido importa da UE 28% da comida consumida e, dependendo da altura do ano, certos vegetais ou frutas, como alfaces e tomates, podem representar até 90% das vendas no mercado britânico.

Porém, Lee Rotherham, diretor do instituto eurocético The Red Cell e ativista a favor do Brexit, considera que este tipo de avisos pode servir para “exacerbar o problema” e que pode levar à compra causada por pânico dos consumidores.

Em declarações ao canal televisivo BBC News, Rotherham disse que ainda é incerto como é que a UE vai aplicar certos regulamentos nas trocas comerciais com o Reino Unido, mas vincou que o governo britânico tem a capacidade para dispensar a aplicação de certos controlos e facilitar a entrada de produtos europeus.

Na sua opinião, as perturbações serão pequenas e temporárias, ilustrando: “O que eu estou a dizer é que vai exigir uma lomba na estrada, não uma parede”.