O Presidente dos EUA, Donald Trump, desloca-se esta quarta-feira a El Paso, sul do Texas, e a Dayton, no estado do Ohio, quatro dias após os dois tiroteios nos Estados Unidos que provocaram pelo menos 32 mortos. Prevê-se a chegada a Ohio pela manhã, antes de se deslocar para El Paso já durante a tarde.

As opiniões dividem-se sobre a deslocação do chefe da Casa Branca, acusado por diversos setores de fomentar o ódio racial nos seus discursos. A determinação de Trump, anunciada no seu discurso oficial, em combater o extremismo continua a ser questionada por parte da população. E as comparações com Barack Obama são inevitáveis sobretudo depois de o ex-Presidente democrata ter apelado na segunda-feira à rejeição — mas sem nomear diretamente o seu sucessor — dos discursos que “normalizam” o racismo.

Em Dayton, ainda não se esqueceu, a gaffe cometida por Trump durante o discurso na Casa Branca de reação aos ataques. Enquanto lia o teleponto, o presidente dos Estados Unidos disse erradamente “Toledo”, em vez de “Dayton”. Nan Whaley, a presidente da Câmara de Dayton, onde nove pessoas morreram, disse na altura, de forma irónica: “Ele disse que viria em algum dia desta semana, ouvi falar em quarta-feira mas eu não recebi nenhum telefonema. E ele pode ir a Toledo, não sei”.

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Já mais tarde, Nan Whaley disse estar pronta para receber oficialmente Trump. Em declarações ao The New York Times, afirmou esperar que o Presidente leve “valor e ajude a comunidade”, e “que não se trate apenas de um sucesso de imprensa”: “Espero sim que ele realmente faça alguma coisa”.

Em El Paso, a tensão em relação à visita de Donald Trump é mais intensa, havendo protestos na rua com cartazes a dizer que o Chefe de Estado não é bem vindo. Alguns líderes políticos da cidade pediram mesmo  que o Presidente cancelasse a visita. “Não deve vir enquanto estivermos de luto”, disse Veronica Escobar, congressista democrata da região, citada pelo jornal norte-americano.

O antecessor de Veronica Escobar e candidato à nomeação presidencial democrática em 2020, Beto O’Rourke, também faz parte da lista de opositores à visita. Na terça-feira, Donald Trump disse no Twitter que o político tinha um nome que “indicava a sua heraça hispânica” e pediu-lhe para “estar calado”. O’Rourke rapidamente contestou: “El Paso não vai ficar calado e eu também não”.

Já o presidente da Câmara de El Paso, o republicano Dee Margo, garantiu que iria deixar a visão pessoal de lado. “Quero esclarecer, por motivos políticos, que sou o mayor de El Paso, que está oficialmente a receber o gabinete do Presidente dos Estados Unidos, o que considero ser meu dever formal”.

Kellyanne Conway, conselheira do Presidente, denunciou na terça-feira a “politização dos tiroteios” do passado fim de semana pela oposição e assegurou que Trump “está empenhado em juntar o país”. O responsável de El Paso do Partido Republicano, Adolpho Telles, manifestou-se mais cauteloso face à vista do chefe da Casa Branca, cujas “boas ideias” não são “sempre acompanhadas” de frases “apropriadas”.

EUA. Em menos de 24h, dois tiroteios resultaram em 32 mortos e mais de 40 feridos

As autoridades norte-americanas já definiram o ataque em El Paso protagonizado por Patrick Crusius, um branco de 21 anos, e que foi detido, como um “crime de ódio” e o procurador local anunciou que vai ser solicitada a pena de morte.

Na segunda-feira, Trump pediu pena de morte para os autores dos tiroteios, apelando para que a execução seja feita rapidamente.

“Ordenei ao Ministério da Justiça que proponha uma lei que garanta que aqueles que cometem crimes de ódio e assassínios em massa sejam punidos com a pena de morte e que a pena de morte seja implementada rapidamente, decisivamente e sem demora”, afirmou na Casa Branca.

Classificando os tiroteios como “crimes contra a humanidade”, o Presidente dos EUA defendeu que o país deve condenar a ideologia da supremacia branca, considerada como ponto de origem de um dos tiroteios.

Trump exortou também esta quarta-feira os congressistas Republicanos e Democratas a aprovarem regras mais restritivas de verificação de antecedentes de quem queira comprar armas de fogo, sugerindo, porém, que tais medidas devem estar ligadas a uma reforma migratória.