O último dia da janela de transferências da Premier League traz normalmente negócios surpresa, trocas inesperadas ou a confirmação de chegadas ou saídas que estiveram a ser cozinhadas durante todo o verão. Esta temporada, entre a sempre adiada ida de Lukaku para o Inter Milão, a busca do Tottenham por reforços que compensassem a ausência de contratações nos últimos anos e até o regresso de Rooney a Inglaterra, o mercado pareceu centrar-se no setor mais recuado do relvado. Depois de Van Dijk se ter tornado o defesa mais caro de sempre em janeiro do ano passado, Harry Maguire reivindicou esse título ao mudar-se do Leicester para o Manchester United por 88 milhões de euros; João Cancelo voou de Turim para Manchester e é agora o lateral mais valioso da história; e os red devils ainda se reforçaram com o lateral Wan-Bissaka, que custou mais de 60 milhões.

Tudo somado, e tal como a Forbes aprofundou no início desta semana, a Premier League encabeça uma onda que está a tornar-se moda na Europa e que este verão atingiu o seu clímax: a crescente e progressiva valorização dos defesas, centrais e laterais, até números que até há pouco tempo estavam reservados apenas para médios de caráter mais ofensivo, avançados e pontas de lança. Os clubes ingleses lideram as contratações de defesas por valores bem acima do normal mas a Juventus também investiu 75 milhões em De Ligt, o Bayern Munique gastou 115 com Pavard e Lucas Hernández e o Atl. Madrid reforçou-se com Felipe, Hermoso e Trippier, que todos juntos custaram praticamente 70 milhões.

Oficial: Maguire assina pelo Manchester United e é o defesa mais caro de sempre

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É no meio deste fenómeno que surge a surpresa David Luiz. No penúltimo dia da janela de transferências da Premier League — e com a afirmação a ficar mesmo para o deadline day –, os jornais ingleses deram conta de que o central brasileiro faltou ao treino do Chelsea para forçar uma saída para o Arsenal, um dos principais rivais dos blues. Aos 32 anos, o ex-Benfica renovou contrato com o clube inglês por duas temporadas apenas no passado mês de maio, num negócio que até violou a habitual política do Chelsea de não renovar com jogadores com mais de 30 anos por mais de uma época. Depois de já ser associado a uma ida para o Arsenal no final de janeiro de 2018, no mercado de inverno da temporada 2017/18, o central decidiu ficar em Stamford Bridge sob a garantia de que seria um dos capitães de equipa, um líder de balneário e um símbolo do clube: tudo mudou com a chegada de Frank Lampard ao comando técnico da equipa, para substituir Maurizio Sarri, e a renitência do treinador em colocar o brasileiro enquanto titular indiscutível no centro da defesa.

A história de David Luiz, que deve este ano tornar-se o 10.º jogador a representar Chelsea e Arsenal em jogos da Premier League (depois de Petit, Ashley Cole, Anelka, Gallas, Petr Cech, Benayoun, Fàbregas, Lass Diarra e Giroud), acaba por ganhar ainda mais relevância devido aos valores envolvidos. Ou, neste caso, à escassez de valores envolvidos. De acordo com a comunicação social inglesa, o Arsenal vai pagar pouco mais de oito milhões de euros pelo central — um número que, face aos valores astronómicos que se tornam cada vez mais usuais no futebol europeu, é interpretado como praticamente irrisório. Principalmente se olharmos para o facto de David Luiz, tal como Van Dijk e Maguire, já ter sido um dia o defesa mais caro do mundo (quando o PSG pagou 50 milhões por ele, em 2014).

Depois de vencer o Arsenal na final da Liga Europa da temporada passada, David Luiz deve agora mudar-se para o lado dos “gunners”

Mais do que aquilo que já valeu — ou ainda vale, consoante a perspetiva –, os oito milhões que vão sair dos cofres do Arsenal têm sido comparados às dezenas de milhões que estão a ser investidas em Inglaterra em defesas com menos nome, menos palmarés e menos experiência. Ainda que a idade seja um fator decisivo (David Luiz tem 32 anos, Maguire tem 26, por exemplo), a disparidade de valores chega perto do incompreensível: o Brighton pagou 20 milhões por Adam Webster, que nunca jogou na Premier League, James Tarkowski, do Burnley, e Lewis Dunk, também do Brighton, estão avaliados em mais de 40 milhões e o Bournemouth está a pedir mais de 75 milhões por Nathan Aké, um internacional holandês que interessa ao Everton de Marco Silva.

Ainda assim, David Luiz deve então deixar o Chelsea depois de sete temporadas em Stamford Bridge, divididas em dois períodos, e após conquistar uma Premier League, duas Taças de Inglaterra, uma Liga dos Campeões e duas Ligas Europa. Também em Londres mas no Emirates, o internacional brasileiro vai reencontrar Unai Emery, que o orientou durante um breve período no PSG.