A Guatemala celebra no domingo a segunda volta das eleições presidenciais em plena contestação popular por denúncias de fraude eleitoral nas eleições de junho e o aumento da repressão contra os ativistas ambientais neste país da América central.

Em 16 de junho, mais de oito milhões de eleitores foram convocados às urnas para eleições presidenciais, legislativas e municipais, com uma taxa de participação que rondou os 50,57%.

A segunda volta das presidenciais, que decorrem domingo, é disputada entre Sandra Torres (26% em 16 de junho) e Alejandro Giammattei, ex-diretor do Sistema penitenciário e candidato pelo partido Vamos (centro-direita), que garantiu a segunda posição com 15% dos votos.

Uma sondagem divulgada na quinta-feira indica que Giammattei obteria 39,50% dos votos, uma vantagem de sete pontos percentuais sobre Sandra Torres, que garantiria 22,80%.

Cerca de 23% dos inquiridos referiram permanecer indecisos e podem ser decisivos nesta segunda volta.

Sandra Torres, do partido Unidade Nacional de Esperança (UNE, social-democrata), ex-mulher do antigo chefe de Estado Álvaro Colom, divorciou-se em 2011 para poder concorrer a este escrutínio, que designará o sucessor do Presidente cessante, Jimmy Morales para um mandato entre 2020 e 2024.

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A última semana de campanha ficou assinalada pela detenção na quarta-feira de Gustavo Adolfo Castillo, ex-diretor do departamento de Informática do Tribunal supremo eleitoral (TSE) da Guatemala.

Segundo o Ministério público, está indicado por “destruição de registos informáticos e incumprimento de deveres”.

Pelos mesmos motivos foi ainda detido o ex-subdirector de Informática do TSE, Beny Obdulio Román, também destituído em julho por irregularidades no escrutínio eleitoral.

As denúncias baseiam-se na verificação das atas das assembleias de voto, que não coincidiram com os incluídos na página eletrónica.

Castillo e os magistrados do TSE admitiram os erros e sugeriram uma comissão especial para rever todas as atas dos resultados, mas os observadores dos partidos políticos recusaram essa medida.

Apesar de as autoridades eleitorais terem insistido que estes problemas apenas afetaram as eleições legislativas e não as presidenciais, a líder indígena maia Mam, Thelma Cabrera, que concorreu ao escrutínio presidencial pelo partido Movimento para a Libertação dos Povos (MLP), denunciou uma fraude generalizada.

No entanto, o TSE e a Missão de observadores eleitorais da Organização de Estados Americanos (OEA) negaram a existência de fraudes e legitimaram os resultados.

Na terça-feira, milhares de camponeses bloquearam diversas estradas principais na Guatemala, numa rejeição ao acordo migratório firmado com os Estados Unidos e para exigirem a anulação das eleições de 16 de junho por “fraude eleitoral”.

Um dos bloqueios foi encabeçado por Thelma Cabrera, que garantiu o quarto lugar no escrutínio (10,3%) num país com maioria de população com raízes indígenas.

“Apoio a valentia do povo para continuar a denunciar a fraude eleitoral na Guatemala”, disse Cabrera, fundadora do Comité de Desenvolvimento Camponês em declarações aos jornalistas, ao insistir que os escrutínios foram falsificados “para se imporem candidatos”.

“Rejeitamos os dois candidatos”, sublinhou numa referência a Sandra Torres e Alejandro Giammattei. A campanha eleitoral para as eleições de junho ficou ainda assinalada pela exclusão da competição de Thelma Aldana, figura da luta anticorrupção e por ameaças de morte, num dos países mais pobres e violentos da América Latina.

A líder do MLP também referiu que a “paralisação nacional” se destinava a rejeitar o acordo migratório assinado entre os governos da Guatemala e Estados Unidos, que permitirá fornecer “asilo temporário” aos migrantes salvadorenhos e hondurenhos que pretendem alcançar o país do norte, e a denunciar as perseguições aos ativistas locais.

Um recente relatório da organização não-governamental espanhola Alianza por la Solidaridad indica que os assassínios de líderes e ativistas ambientais na Guatemala, sobretudo indígenas, quintuplicaram nos últimos doze meses, um número que confirma o aumento de mortes denunciado nos últimos dias por dois relatórios que colocam a América central e do sul no topo desta lista à escala mundial.

Neste país da América central que faz fronteira com o México, Belize, Honduras e El Salvador, prossegue a emigração anual de várias dezenas de milhares de guatemaltecos, em fuga das violências que atingem em particular ativistas e militantes sociais, e da miséria.

As remessas dos cerca de 1,5 milhões de emigrantes nos Estados Unidos são um dos principais motores da economia do país. Em 2018 atingiram o número recorde de 9,3 mil milhões de dólares (8,2 mil milhões de euros).