Tem Venceslau Fernandes no Cartão de Cidadão mas continua muitas vezes a ser carinhosamente tratado como o “Velho Lau”. Aos 74 anos, o tempo parece não passar por uma das figuras mais acarinhadas entre o ciclismo nacional e que, além de ter na família a filha medalhada olímpica Vanessa (prata nos Jogos de 2008, em Pequim), encontra também agora o filho Venceslau na equipa da Oliveirense a fazer a Volta a Portugal. Durante o aquecimento do mais novo, o pai falou à RTP. E resumiu o que se poderia esperar destes últimos 20 quilómetros de prova colocando a luta aberta não a dois mas a três corredores.

W-52 FC Porto ganhou, perdeu e chega à última etapa sem saber se ganha ou perde (o resumo da subida à Senhora da Graça)

“Esta Volta é uma coisa impressionante, ainda estou para perceber como é que 1.500 quilómetros depois existem dois corredores com o mesmo tempo… Favorito? Penso que o Joni [Brandão] tem uma certa vantagem mas os três que estão na frente podem ganhar. Aliás, sendo contrarrelógio o Veloso ainda é o mais favorito a ganhar hoje”, atirou no lançamento da décima e última etapa da prova, que ligava Vila Nova de Gaia ao Porto num contrarrelógio com mais subidas e descidas do que é habitual – e numa opinião que era diferente quando falavam alguns diretores desportivos de equipas do pelotão nacional. Entre os protagonistas do dia, que falaram durante o aquecimento à RTP, a vontade era de transformar o sonho em realidade.

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“É um contrarrelógio para gente forte mas não é puro, por causa do sobe e desce, sem tantas zonas que sejam apenas a rolar. A presença de Pinto da Costa? Importante. É um homem de poucas palavras mas sempre no momento certo. Deu tranquilidade, deu ânimo, pediu para darmos o nosso melhor”, comentou Gustavo Veloso, da W52-FC Porto. “É um sonho que se pode tornar realidade. Se falhar, tenho aqui também o meu velhote [Veloso]. Se não for eu a ganhar, era bom que fosse ele. É alguém com quem aprendi bastante”, atirou João Rodrigues, também dos azuis e brancos. “Já tinha decorado o percurso, agora é as pernas deixarem que dê tudo. Só penso no risco da meta. Ganhar era um sonho tornado realidade”, comentou Joni Brandão, chefe de fila da Efapel que partia para o momento decisivo da corrida com uma vantagem de apenas 407 milésimas de segundo.

Durante muito tempo, o francês Thibault Guernalec liderava com o melhor registo no contrarrelógio mas, num dia que ficou ainda marcado pela desistência de Frederico Figueiredo pelas fraturas no braço direito (que não impediram que terminasse a Senhora da Graça entre os primeiros classificados), todas as atenções estavam centradas numa dupla que podia ou não tornar-se tripla consoante o registo de Veloso nos primeiros quilómetros. E estavam através da transmissão televisiva e nas ruas, com milhares e milhares de pessoas na estrada com inúmeras bandeiras e cachecóis do FC Porto no caminho até aos Aliados.

Esses primeiros dez minutos tiveram o condão de colocar a disputa a dois, com João Rodrigues 16 segundos mais rápido do que Veloso e 14 em comparação com Joni Brandão, o que deixava o espanhol fora da luta pela camisola amarela mas tendo o seu companheiro de equipa virtualmente na frente da corrida. Lá na frente, António Carvalho, também da W52-FC Porto, foi o primeiro a baixar da fasquia dos 28 minutos, com uma média de 42 quilómetros por hora de média. Mas todos os olhos estavam centrados em João Rodrigues, o mais novo da equipa que tinha prometido em declarações reproduzidas pelo jornal O Jogo “partir à morte e chegar à morte” neste último capítulo da Volta a Portugal mais disputada de que há memória. E foi mesmo o corredor de 24 anos a ficar com a camisola amarela, num final emocionante que prendeu todas as atenções nos Aliados.

Joni Brandão fez também um grande contrarrelógio, com uma marca melhor do que Gustavo Veloso por exemplo. No entanto, na hora da verdade, João Rodrigues foi o mais forte, ganhando a etapa com menos 15 segundos do que o companheiro de equipa António Carvalho e menos 27 do que o chefe de fila da Efapel, antes da festa azul e branca que juntou todos os corredores de Nuno Ribeiro, patrocinadores e também o líder do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, que viu a equipa manter o triunfo individual e coletivo apesar da ausência de Raúl Alarcón, figura que tinha marcado as últimas duas edições.

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