Dos quatro medicamentos em teste no tratamento das pessoas infetadas com ébola, dois deles justificam a continuação dos ensaios clínicos — reduziram a taxa de mortalidade para 29 e 34% —, revelou o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. Os ensaios clínicos estão a ser feitos na República Democrática do Congo, na região que tem um surto de ébola ativo há mais de um ano, com mais de 1.800 mortes registadas.

“Começámos um novo capítulo. A partir de agora, não vamos poder dizer que o ébola não tem cura”, disse, em conferência de imprensa, Jean-Jacques Muyembe-Tamfum, que coordena a equipa de resposta ao ébola na República Democrática do Congo e que foi a primeira médico a ter contacto com o vírus, em 1976.

Até ao surto de ébola de 2014-2016, que atingiu a Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, não havia nenhum tratamento específico para esta infeção viral. Os cuidados prestados aos doentes focavam-se, sobretudo, em garantir que as pessoas tinham as melhores condições para manterem as funções vitais, como estarem devidamente hidratadas. O atual surto na República Democrática do Congo pode contar com quatro medicamentos diferentes, ainda que estivessem todos em teste.

Alguns dos doentes infetados com ébola, na República Democrática do Congo, foram tratados com medicamentos que ainda não estavam aprovados, mas que tinham mostrado bons resultados de segurança e eficácia. Tratava-se de um uso compassivo, progrma sem custos para os doentes nem para o Estado. Mas, em novembro de 2018, teve início um ensaio clínico para determinar qual dos tratamentos disponíveis era o mais eficaz — mas o uso compassivo para os doentes que não estavam no ensaio clínico continuou.

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A taxa de mortalidade é muito variável de surto para surto — de 25 a 90% —, mas no caso do surto na República Democrática do Congo, que teve início a 1 de agosto de 2018, a taxa é de 67% (2.737 casos confirmados e 1.892 mortes, a 11 de agosto, segundo a Organização Mundial de Saúde). O tratamento com melhores resultados gerais, REGN-EB3 (Regeneron), conseguiu reduzir a taxa de mortalidade para 29% e os doentes tratados com mAb114 tiveram uma taxa de mortalidade de 34%. Para os doentes que chegaram aos centros de tratamento cedo, e que ainda tinham poucos vírus no sangue, os resultados foram ainda melhores: 6% para REGN-EB3 e 11% para mAb114.

O ZMapp (Mapp Biopharmaceutical), outro dos medicamentos testados, não teve tão bons resultados, com 49% de mortes — mas pior mesmo foi o remdesivir (GS-5734), com 53%. O ZMapp foi desenvolvido ainda durante o surto de ébola de 2014. Na altura, mostrou-se seguro e foi bem tolerado pelos doentes, mas como já só foi usado no final, não conseguiu ser testado num número suficiente de doentes para demonstrar se era melhor do que o tratamento padrão — os cuidados de suporte —, referiram, na altura, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.

Comissão decidiu interromper o ensaio clínico

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A comissão que avalia a evolução do ensaio clínico decidiu, a 9 de agosto, que, apesar de a análise completa dos dados só estar concluída em setembro ou outubro, os dados preliminares eram suficientemente seguros para interromper o ensaio clínico com quatro e passar a uma próxima fase só com dois medicamentos. Os resultados obtidos nesta primeira fase dos ensaios clínico será publicada numa revista científica médica em breve, assegura o NIAID.

Os bons resultados obtidos com REGN-EB3 e mAb114 e a diferença significativa em relação aos outros tratamentos fez com que os ensaios clínicos com os quatro medicamentos fosse interrompido, revelam os NIH. Agora, só os dois medicamentos com os melhores resultados vão continuar em ensaios clínicos. E todos os doentes que receberem os outros dois medicamentos nos últimos 10 dias vão poder também receber os tratamentos mais eficazes.

Os três medicamentos com melhores resultados são todos baseados em anticorpos contra o vírus ou partes do vírus: REGN-EB3 tem três anticorpos combinados, criados em ratos que foram infetados com ébola, mAb114 tem apenas um anticorpo isolado de um sobrevivente do surto de ébola de 1995 e ZMapp também combina três anticorpos, mas estes originados numa planta de tabaco. Já o medicamento com pior resultado, o remdesivir (GS-5734), é um antiviral.