O navio humanitário Ocean Viking tem a a bordo 356 pessoas que aguardam um porto para desembarcar depois de, na segunda-feira, ter resgatado 105 migrantes nas águas internacionais ao largo da Líbia. Esta terça-feira, os Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a SOS Méditerranée — que juntas operam o Ocean Viking — exigem que seja providenciado o mais rápido possível um porto seguro para o desembarque destes migrantes.
ATUALIZAÇÃO: com 356 homens, mulheres e crianças a bordo, o #OceanViking, operado pela #MSF e @SOSMedIntl, está a partir da zona ao largo da Líbia, na expetativa de receber um porto de segurança onde desembarcar estas pessoas e o qual cumpra os requisitos da lei internacional. pic.twitter.com/Utp8usjxoN
— Médicos Sem Fronteiras (@MSF_Portugal) August 13, 2019
As duas organizações já pediram formalmente às autoridades marítimas de Malta e Itália para assumirem a coordenação e apoio necessários para encontrar um porto seguro para o desembarque, visto que são estes os países mais próximos dos centros de coordenação com capacidade para prestar a assistência necessária. As autoridades da Líbia ainda não responderam aos pedidos, informa um comunicado dos Médicos Sem Fronteiras a que o Observador teve acesso.
Entre os sobreviventes, há quem apresente sinais de violência física e psicológica sofrida durante a viagem pela Líbia. A dura realidade é que há um conflito na Líbia onde muitos migrantes e refugiados estão presos em centros de detenção na fronteira. Pedimos agora um local seguro para desembarcar estas pessoas vulneráveis sem mais demoras. Elas já sofreram o suficiente”, apela no comunicado Jay Berger, coordenador do projeto Médicos Sem Fronteiras, que está a bordo do navio.
O resgate de segunda-feira ocorreu quando um bote de borracha foi avistado pelo Ocean Viking a cerca de 40 milhas náuticas da costa líbia. A bordo do bote estavam 105 homens e adolescentes, a maioria oriundos do Sudão. Entre eles encontravam-se 29 menores, incluindo duas crianças com 5 e 12 anos. Nos dois anteriores resgates feitos pelo Ocean Viking, no sábado e no domingo, a grande parte dos migrantes resgatados eram também homens sudaneses que fugiam da Líbia.
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“A vasta maioria das pessoas resgatadas pelo Ocean Viking diz ter sofrido prisão arbitrária ou extorsão. Dizem também ter sido obrigadas a trabalhar em condições equivalentes a escravatura ou torturadas durante a viagem. Dos 183 menores de idade seguros a bordo, só 11 estão acompanhados por um pai ou um adulto responsável”, revela em declarações esta terça-feira à Rádio Observador Hannah Wallace Bowman, coordenadora de comunicações dos Médicos Sem Fronteiras, também a bordo do navio.
“Esperamos que as autoridades europeias cumpram a lei internacional e ofereçam rapidamente um local seguro para o desembarque para todas as pessoas a bordo do Ocean Viking”, acrescenta.
Os MSF afirmam também que não vão enviar os migrantes de volta para a Líbia: “A única resposta do Centro Líbio de Coordenação Conjunta de Resgate foi, por duas vezes, desembarcar os sobreviventes na Líbia. Isto vai contra a lei internacional. Nós não vamos enviar sobreviventes de volta para a Líbia em nenhuma circunstância”.
Mais espaçoso e mais adequado para as missões de resgate, o Ocean Viking está equipado para acomodar entre 200 a 250 pessoas em boas condições, mas as duas ONG garantem que a embarcação ainda tem capacidade para acolher mais migrantes caso a situação assim o exigir.
Ao mesmo tempo, e num caso semelhante, a organização humanitária espanhola Open Arms denunciou esta terça-feira o “abandono” pela Europa do seu navio com 151 migrantes a bordo no centro do Mediterrâneo, enquanto espera há 12 dias por um porto para o desembarque.
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