Philippe Coutinho saiu do Brasil para a Europa em 2008, com 16 anos. Jogou no Inter Milão, regressou ao Brasileirão para representar o Vasco da Gama, mudou-se para Espanha para se juntar ao Espanyol e em 2013 assentou arraiais em Liverpool, onde despertou de vez para o futebol europeu. Há dois anos, quando se tornou a contratação mais cara da história do Barcelona, uma coisa era certa: com 25 anos, Philippe Coutinho tinha uma experiência impressionante, um currículo que passava por três das cinco principais ligas europeias e um já confirmado papel de destaque na seleção brasileira. Aterrou em Camp Nou para ser o substituto de Iniesta. E o erro começou logo aí.

Dois anos e meio depois de trocar o Liverpool pelo Barcelona e custar 120 milhões de euros aos cofres catalães — tornando-se, à data, a contratação mais cara do futebol espanhol e do Barcelona, que entretanto desembolsou o mesmo valor por Griezmann –, o jogador brasileiro ruma à Alemanha e ao Bayern Munique a título de empréstimo. Depois de ser associado a um regresso a Anfield Road, descartado desde logo graças à política de parco investimento que o Liverpool tem seguido desde que contratou Van Dijk, de ter ficado muito perto de voltar à Premier League mas para jogar no Tottenham e também depois de rejeitar o PSG, num negócio onde serviria de moeda de troca para colocar Neymar novamente em Barcelona, Philippe Coutinho acrescenta um cromo à caderneta e junta a liga alemã à italiana, à inglesa e à espanhola por onde já andou. O empréstimo custa 8,5 milhões de euros ao Bayern, que fica com uma opção de compra de 120 no final da época, e as chances de sucesso são elevadas. Nem que seja apenas porque, desta vez, o brasileiro vai substituir a pessoa certa.

E é aqui que voltamos ao tópico Iniesta. O antigo internacional espanhol, que está agora no Vissel Kobe do Japão, só deixou Camp Nou no verão passado mas a contratação de Coutinho em janeiro de 2017 já foi a pensar numa adaptação prolongada, ponderada e pensada para que o lugar deixado vago por Iniesta não ficasse no vácuo. Mas o jogador brasileiro nunca se habituou às funções mais construtivas do meio-campo, à exigência das transições defensivas e às dinâmicas do Barcelona: ia tudo contra o seu perfil natural, mais perto da área, mais próximo dos corredores, a procurar espaços entre linhas e com quase total liberdade de movimentos. O problema é que no Barcelona esse papel é de apenas um jogador — Lionel Messi. Só o argentino é que não tem uma função específica, só o argentino é que aparece na esquerda e na direita como logo a seguir aparece na faixa central e só o argentino é que tem carta branca para recuar, avançar, solicitar e aparecer em zonas de finalização. Philippe Coutinho, que tem como principais atributos tudo isso que Messi faz, foi ficando fechado ou no meio-campo ou num corredor. E a insatisfação do brasileiro tornou-se impossível de esconder.

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A contratação mais cara da história do Barcelona (em ex aequo com Griezmann) acabou por revelar-se um flop

Na última temporada, os jornais espanhóis multiplicaram-se em textos e análises sobre a tristeza de Coutinho, o enfado de Coutinho, a falta de sorrisos de Coutinho. Entrou para o restrito lote de jogadores do Barcelona que foram assobiados pelos próprios adeptos e foi perdendo espaço para Dembélé, que ganhou vantagem na luta pelo terceiro lugar no trio onde já estavam Suárez e Messi. Este verão, com a chegada de Griezmann e o interesse do clube no regresso de Neymar, a saída de Philippe Coutinho era praticamente certa. Depois de 21 golos e 11 assistências ao longo de 75 jogos, o brasileiro deixa a Catalunha pela porta pequena e a palavra desilusão encaixa bem nos dois lados da barricada. Segue-se o Bayern: onde a história pode ser diferente logo a partir do primeiro capítulo.

Se em Barcelona chegou com o rótulo de substituto de Iniesta, em Munique chega com o rótulo de substituto de Ribéry e Robben, dois jogadores cujas funções e movimentos no Bayern se assemelhavam muito mais àquilo que Coutinho fazia no Liverpool — e àquilo que atraiu os catalães há dois anos e meio. Além de reforçar a equipa de Niko Kovac, que apesar da hegemonia dos últimos anos enfrenta esta temporada um renovado e perigoso Borussia Dortmund na luta pela liga alemã, o brasileiro chega para voltar a colocar o Bayern no radar da Liga dos Campeões. E para mostrar ao Barcelona que o erro estava nas expectativas.