Depois de a embarcação humanitária “Open Arms”, que está há 17 dias no mar com 134 migrantes a bordo à espera de autorização para desembarcar em Itália, ter recusado a oferta espanhola para aportar em Algeciras, o Governo espanhol informou a ONG de que o barco poderia desembarcar no porto de Mahón, na ilha de Menorca — o porto espanhol mais próximo da localização atual do barco, ao largo da ilha italiana de Lampedusa. Mas a tripulação do barco voltou a recusar, por considerar que as pessoas a bordo não se encontram em condições de fazer uma viagem daquela dimensão em segurança.
Neste momento, de acordo com a agência de notícias espanhola Efe, Espanha já tem aberta a possibilidade de o barco aportar em qualquer porto do país. Foi a vice-presidente do Governo em funções, Carmen Calvo, que telefonou na tarde de sábado à presidente da região autónoma das Baleares, Francina Armengol, para lhe propor que o porto de Palma (Mallorca) ou o de Mahón (Menorca) pudessem receber o barco, já que são os que se encontram mais próximos do “Open Arms”. Armengol concordou e os portos encontram-se neste momento preparados para receber o barco.
Porém, segundo o jornal espanhol El País, a ONG espanhola “Open Arms”, dona do barco com o mesmo nome, respondeu ao Governo de Pedro Sánchez que não será possível viajar em segurança até qualquer porto de Espanha. “Está a viver-se uma situação de ansiedade muito forte, com confrontos físicos, e isto influencia muito negativamente a segurança”, disse um porta-voz da ONG citado pelo jornal. “A situação tornou-se incontrolável, pelo que não podemos afastar-nos da costa em condições de segurança com as pessoas a bordo.”
Mesmo tendo em cima da mesa as opções de ir para o porto de Algeciras, que fica a 950 milhas náuticas de distância, ou para o de Mahón, a 590 milhas, o porta-voz argumenta que “tem de se impor o porto mais próximo, que é aquele que temos a meia milha, porque não podemos movimentar-nos em condições de segurança”. O barco encontra-se a menos de um quilómetro da ilha italiana de Lampedusa.
[Veja no mapa a localização do barco “Open Arms” e dos portos de Algeciras e de Mahón]
No domingo, chegaram do barco relatos pouco animadores sobre a situação a bordo. Um vídeo divulgado pelo líder da ONG, Oscar Camps, mostra vários migrantes a atirarem-se ao mar, na esperança de chegar a nado à costa de Lampedusa. Os socorristas presentes a bordo atiraram-se à água e conseguiram impedi-los, trazendo-os de regresso ao barco, mas a tripulação afirma que a situação é neste momento insustentável.
Também no domingo, a tripulação do barco enviou um novo pedido ao porto de Lampedusa para que o desembarque seja autorizado devido à situação das 107 pessoas a bordo — 27 menores não acompanhados já foram autorizados a desembarcar depois de Matteo Salvini ter assinado a autorização, contrariado, e colocado todas as responsabilidades no primeiro-ministro Giuseppe Conte.
Também no Mediterrâneo continua o barco “Ocean Viking”, com 356 migrantes a bordo, que continua a tentar obter dos Governos de Itália e de Malta autorização aportar nos países — embora sem sucesso. Neste barco não foram reportadas situações de crise, embora haja indicação de migrantes com problemas de saúde a bordo que precisam de cuidados médicos com urgência.
Relatado novo naufrágio ao largo da Líbia
Já esta segunda-feira, a Alarm Phone, uma organização independente que gere uma linha telefónica de emergência para apoiar os migrantes no Mediterrâneo, alertou para a possibilidade de um naufrágio de mais um barco com migrantes ao largo da Líbia, que teria mais de 100 pessoas a bordo, e do qual poderão ter resultado várias mortes.
Large shipwreck in the #Med? A fisherman told us yesterday about a capsized boat off #Libya. He said he rescued 3 ppl & saw many dead bodies. The survivors speak of 100+ ppl on board. At this stage we cannot verify this info but fear that another mass tragedy may have occurred.
— Alarm Phone (@alarm_phone) August 19, 2019
“Grande naufrágio no Mediterrâneo? Um pescador falou-nos ontem sobre um barco virado ao largo da Líbia. Ele disse que resgatou três pessoas e que viu muitos cadáveres. Os sobreviventes falam de mais de 100 pessoas a bordo. Neste momento, não podemos verificar isto, mas tememos que mais uma grande tragédia possa ter acontecido”, disse a organização através do Twitter.