Numa altura em que se aproximam as eleições legislativas em Israel, agendadas para o próximo mês, e em que a representação de mulheres no Parlamento continua a ser inferior a um quarto dos seus assentos, o governo de Netanyahu decidiu lançar uma campanha publicitária institucional para promover o micvê, o ritual de banho que a tradição judaica ordena às mulheres sete dias depois do início da menstruação, com o objetivo de “purificar”.

Segundo a lei judaica de “Pureza Familiar”, a mulher deve imergir-se num micvê — uma piscina ritual construída segundo especificações exatas delineadas na lei judaica — de onde sairá “renovada espiritualmente”, já que durante a menstruação as mulheres são consideradas impuras. Desde o primeiro dia da menstruação até ao banho no micvê a mulher e o homem não podem ter qualquer tipo de contacto nem manifestações físicas de afeto, diz o preceito da Torah.

A campanha publicitária, conta o El País, é da responsabilidade do Ministério dos Assuntos Religiosos e terá personalidades conhecidas a relatar a experiência na primeira pessoa. Segundo o jornal Haaretz, vai custar o equivalente a mais de 250 mil euros e os anúncios vão ser exibidos na televisão e nas plataformas digitais. A publicidade terá também a imagem de celebridades femininas locais, que vão incentivar as israelitas a optarem por este ritual.

Segundo a mesma publicação, esta não é a primeira vez que se considera que o ministério “excedeu a sua competência” — fornecer serviços religiosos a quem os procura —, ao lançar uma campanha que se destina a incentivar a obediência às leis da religião judaica. A campanha que irá agora para o ar, esteve pré-agendada em 2016 e tem vindo a ser consecutivamente adiada devido a divergências entre a agência de publicidade do governo e o ministério responsável pela ação. O El País acrescenta que esta campanha faz parte de um acordo da coligação que o primeiro-ministro israelita fez com os partidos ultra-religiosos para formar governo em 2015.

Na semana passada, recorde-se, a cidade de Afula, no norte de Israel, teve autorização para ser palco de um concerto ao ar livre onde homens e mulheres ficavam separados na plateia. “Foi um dia negro para a igualdade de género em Israel”, escreveu a colunista Iris Leal, citada pelo El País. “Não foi uma reunião na sinagoga ou um ato privado. Um princípio básico foi violado”, acrescentou.

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