O primeiro-ministro, António Costa, disse esta quarta-feira que uma coligação formal do PS com o PCP, o Bloco de Esquerda e Os Verdes seria “absolutamente impossível”. Em entrevista à TVI24, Costa usou o exemplo da legislatura que agora termina para assegurar que “se o Governo fosse de coligação havia muitas decisões que obviamente o PCP e o Bloco de Esquerda não podiam ter aceite”, dando como exemplos a gestão da dívida pública ou a relação com a União Europeia.

“O nível de compromisso depende do grau de convergência. O grau de convergência entre nós não permite um nível de compromisso maior. É melhor não estragar uma boa amizade com um bom casamento. Acho que não. Isso implicaria uma tal violentação de linhas identitárias dos Verdes, do PCP e do Bloco de Esquerda que seria absolutamente impossível”, disse Costa, quando questionado sobre se uma coligação formal com os partidos à esquerda seria uma hipótese a considerar caso o PS não obtivesse uma maioria absoluta. Uma solução governativa que passasse por uma coligação formal, garante Costa, seria “menos estável”, porque é preciso que o Governo seja “coeso” — e não o seria se convivessem socialistas, comunistas e bloquistas no Conselho de Ministros.

António Costa tinha começado a entrevista por elencar os sucessos alcançados na última legislatura, sublinhando que as perspetivas são de que Portugal continue a crescer economicamente acima da média europeia. “Uma das boas provas que conseguimos nesta legislatura foi demonstrar que não é cortando rendimentos que se melhora a situação económica”, disse Costa, sublinhando que a reposição de rendimentos foi “crucial”. Admitindo que “o salário médio ainda é baixo” em Portugal, Costa afirmou que é preciso agora continuar a “prosseguir esta trajetória de modo a que o rendimento disponível das famílias possa melhorar”.

Para continuar a tal trajetória, Costa precisa da reeleição — e garante que, se for reeleito, Mário Centeno será o primeiro com quem falará para a pasta das Finanças. “É, a seguir ao professor Sousa Franco o primeiro ministro das Finanças que faz uma legislatura completa de 4 anos”, destacou. Relativamente à contagem dos votos, assume que a sua vontade é “a de qualquer líder partidário: ter o melhor resultado possível”. Assumindo a falta de “originalidade” na ambição, deixa a promessa: “Nunca colocarei aos portugueses a chantagem do ‘ou me dão maioria ou não governo’, ‘ou me dão estas condições ou não governo'”.

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Mais à frente, Costa voltaria ao tema dos resultados eleitorais de outubro para dizer que é “absurdo” discutir maiorias absolutas. “Não acredito que qualquer outro dos líderes partidários não desejo o mesmo que eu”, afirmou Costa, para depois reconhecer que “os portugueses não gostam de maiorias absolutas e têm más memórias das maiorias absolutas, seja do PSD seja do PS”. Porém, acrescentou hoje existem melhores “mecanismos de controlo” da democracia, como os meios de comunicação social, o Tribunal de Contas e outros. E não poupou nas palavras para assegurar que o PS foi “o equilíbrio” que permitiu o sucesso da legislatura que agora termina.

No período de perguntas do público, que compõe a primeira parte deste formato de entrevistas da TVI, António Costa foi confrontado com questões sobre a carreira de enfermagem, sobre a redução das taxas de justiça, sobre a economia nacional ou sobre fiscalidade. Mas foi com uma pergunta relativa à educação, colocada por uma professora, que o tom da entrevista subiu. “Aquilo que mais motiva as professoras e os professores são os alunos. É a razão de ser professor, a oportunidade que têm de ajudar a formar cidadãos”, disse a uma professora revoltada com o processo de descongelamento e progressão das carreiras docentes.

“Nunca assumi qualquer compromisso com os professores além do que sabia que podia fazer. Fomos ao limite dos limites do que podíamos fazer, e isso permitiu que um terço dos professores que podiam progredir já tenham progredido. E que nos próximos quatro anos, em média, todos os professores poderão progredir dois escalões. Se há algo que é fundamental para a motivação é ninguém assumir compromissos além daquilo que pode cumprir. Posso não a convencer seguramente, mas tenho de estar convicto daquilo com que me comprometo”, afirmou Costa.

O primeiro-ministro e secretário-geral do PS destacou que o salário mínimo subiu 20% na última legislatura e sublinhou a necessidade de “subir o conjunto dos vencimentos na sociedade portuguesa para termos capacidade de aproveitar os recursos que temos”. Porém, ao contrário do que fez há quatro anos com a meta dos 600 euros, desta vez Costa não se compromete com um valor. “Temos de nos sentar com os parceiros sociais no início da legislatura e fazer um acordo” para esse valor.

Costa foi ainda confrontado com a crise à volta do funcionamento dos serviços públicos em Portugal, mas aproveitou para fazer um novo elogio à sua governação, argumentando que a crise “não é nova” — mas, há quatro anos, as pessoas “viviam numa angústia sobre o dia-a-dia” e, por isso, “davam pouca atenção” a esses problemas. Ao fim de quatro anos, porém, a maior confiança dos portugueses que Costa atribui à devolução de rendimentos e resolução de problemas relacionados com o emprego fez os cidadãos dar mais importância e serem mais exigentes com os serviços públicos.

Já no final da entrevista, António Costa foi questionado sobre a greve dos camionistas de matérias perigosas e sobre a decisão de decretar serviços mínimos entre os 50% e os 100% — e sobre se não seria isso uma forma de esvaziar os impactos de uma greve e de limitar o direito à greve. “Esta greve ameaçava o funcionamento” do país, começou por argumentar Costa, justificando que os serviços mínimos foram de tal forma dentro da lei que “foram intentadas duas providências cautelares e foram rejeitadas”. “Os serviços mínimos têm de ser proporcionais ao risco e aos bens que temos de salvaguardar”, afirmou.