O primeiro-ministro indigitado italiano, Giuseppe Conte, iniciou esta sexta-feira de manhã reuniões com todas as forças políticas, incluindo o Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e o Partido Democrata (PD, centro-esquerda), com quem contará para formar o Governo de coligação.

Há acordo entre Partido Democrático e Movimento Cinco Estrelas. Presidente italiano recebe Conte na quinta-feira

De acordo com a Imprensa italiana, há ainda muitas “pontas soltas” no programa governativo, com os dois partidos de coligação a precisarem de se entender em várias matérias relevantes para a governação de Itália. Prova disso foi a conferência de imprensa realizada por Luigi di Maio, líder do M5E, onde deixou um ultimato ao primeiro-ministro: “Apresentámos ao primeiro-ministro Conte alguns pontos que consideramos essenciais. Se forem bem recebidos, ainda bem. Caso contrário, é melhor voltarmos às votações. E rápido”, afirmou, citado pelo Corriere della Sera.

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A intervenção de Di Maio foi tão inesperada que Andrea Orlando, secretário-adjunto do PD, reagiu quase de imediato no Twitter, classificando a conferência de imprensa de “incompreensível” e perguntando “Di Maio mudou de ideias? Que o diga com clareza”.

O PD apresentou também esta manhã a Conte as suas propostas para o programa do Governo, pelas mãos do seu secretário-geral, Nicola Zingaretti. “Antes de tudo, o corte de impostos sobre os salários médios e baixos, como elemento de justiça”, afirmou Zingaretti, segundo o La Repubblica. Outras das medidas apresentadas foram um plano de investimento público e um programa de incentivo a investimentos privados que se relacionem com “infra-estruturas verdes e indústria 4.0”.

Já o programa apresentado pelo M5E inclui alguns dos pontos anteriormente defendidos pelo partido, como a redução do número de deputados ou o travão ao aumento do IVA, mas também novos tópicos como a aplicação de políticas de género “de acordo com os princípios e direitos constitucionais da União Europeia”, segundo o Corriere della Sera, o fim da venda de armas a países em guerra ou a revisão da lei de adoção.

A delegação da Liga (o partido de extrema-direita com quem esteve até agora coligado o M5E, num Executivo também dirigido por Conte) não contou com o seu líder interino e anterior ministro do Interior, Matteo Salvini e os porta-vozes presentes transmitiram a Conte a mensagem de que pedirão ao Parlamento para não apoiar o futuro Governo.

Minutos antes, Conte reuniu com o partido ultraconservador Irmãos de Itália, cuja líder, Girogia Meloni, também não esteve presente, fazendo-se representar por um porta-voz, Tommaso Foti, que descreveu como “nojento” o acordo de coligação que está a ser preparado em Itália.

Giuseppe Conte foi escolhido quinta-feira, pelo Presidente Sergio Mattarella, para tentar formar um Governo com o apoio do M5E e do PD, depois da dissolução da solução governativa entre o M5E e a Liga, que durou 14 meses.

A ronda de negociações com os partidos acontece no momento em que Conte finaliza o programa governamental e escolhe a sua equipa ministerial, para a qual permanecem várias incógnitas, incluindo a designação para o cargo de vice-primeiro-ministro, que o seu atual titular (Luigi di Maio, líder do M5E) gostaria de manter.

Contudo, o PD tem feito saber que, para assegurar a estabilidade política do novo executivo em que participa, gostaria de ter um seu elemento no segundo lugar da hierarquia, colocando mais um problema para Giuseppe Conte.

O M5S também decidiu submeter o acordo de coligação ao voto dos militantes, numa plataforma online participativa, onde cerca de 100 mil inscritos poderão deixar a sua posição nos próximos dias, antes do voto de confiança a que se sujeitará no Parlamento.

Num ponto, contudo, M5E e PD estão já de acordo: pedir à União Europeia para ser mais flexível nas exigências de cumprimento de metas orçamentais, para permitir um “reforço da coesão social”, com várias medidas de investimento público anunciadas por Conte.

O acordo governamental também já está estabelecido à volta da revisão de concessões de rodovias e sobre uma nova lei de conflitos de interesse, para além da reforma do Conselho Superior de Magistratura.

M5E e PD também já concordaram em rever os decretos sobre segurança e imigração, temas que tinham estado na origem de desentendimentos entre o M5E e o Liga de Matteo Salvini, a fim de cumprir observações introduzidas pelo Presidente italiano, nomeadamente a obrigação de salvar naufrágios do mar com migrantes que procuram portos italianos.