O papa Francisco fez esta sexta-feira um apelo à “reconciliação fraterna” em Moçambique e em África, numa mensagem vídeo divulgada pela Igreja Católica em conferência de imprensa, em Maputo, a anteceder a sua visita ao país, de 4 a 6 de setembro.

Francisco pede a “reconciliação fraterna em Moçambique e África inteira, única esperança para uma paz firme e duradoura”, na mensagem introduzida pelo núncio apostólico — representante do Vaticano — em Moçambique, Piergiorgio Bartoldi.

O papa quer “ver a sementeira feita pelo meu predecessor, João Paulo II”, numa alusão à última visita de um líder máximo da Igreja Católica ao país, em setembro de 1988, antecedendo o fim da guerra civil e a assinatura do primeiro acordo de paz do país, em 1992.

“A dignidade de cada homem e mulher exige que abramos os nossos corações aos outros, especialmente os mais pobres e necessitados”, acrescentou o papa.

A visita acontece um mês depois de ter sido assinado um novo acordo do paz — o terceiro no país — entre o governo e o principal partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), cujos guerrilheiros deverão entregar as armas.

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O papa faz um apelo para que esta reconciliação seja permanente e a palavra tem estado sempre presente em tudo o que antecipa a chegada do líder religioso. “Esperança, paz e reconciliação” é o título dado à visita papal.

Na mensagem desta sexta-feira, Francisco estende saudações a todo o país, apesar de não poder sair da capital, referiu, numa altura em que milhares de moçambicanos ainda sofrem com as consequências dos ciclones Idai e Kenneth, em março e abril. O papa saúda “com um lugar especial todos quantos vivem atribulados”.

Desde que a visita foi anunciada oficialmente, a 27 de março, um dos objetivos expressos foi de o papa se solidarizar com as vítimas dos desastres naturais. O papa Francisco deverá dar atenção também à difícil situação em Cabo Delgado, segundo divulgado pela Igreja.

Ataques de grupos armados com origem nas mesquitas locais contra aldeias e locais recônditos de Cabo Delgado já provocaram cerca de 200 mortos desde outubro de 2017.

A região palco da violência fica no extremo norte do país, onde estão a ser construídos os megaprojetos de gás natural, cuja exploração vai começar em 2022. O papa visita Moçambique a convite das estruturas locais da Igreja Católica e do presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

A comissão mista que prepara a vista espera até 90 mil pessoas num dos pontos altos que será a missa no Estádio do Zimpeto na manhã de sexta-feira, dia 6.

A Igreja Católica apelou em Maputo para que não se faça campanha eleitoral durante a visita do Papa Francisco

A campanha eleitoral para as eleições gerais de 15 de outubro arranca no sábado e o bispo auxiliar de Maputo, António Juliasse, fez hoje, em conferência de imprensa, um apelo para que “não se misturem as coisas”. A visita vai decorrer “num período de campanha e o santo padre veio encontrar-se com todo o povo moçambicano”, realçou.

Assim, “dentro do respeito de uns para outros, não se devem usar estes locais para momentos políticos. Não apenas verbalmente, mas devemos também ter o cuidado em não sermos portadores daquilo que nos pode dividir, em termos de roupa e outros materiais”. O bispo auxiliar espera “muitos autocarro de várias províncias” e peregrinos de outros países da África Austral. Haverá também tarifas específicas das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) para facilitar as viagens de avião dentro do país.

Dentro da capital, uma comissão criada para preparar a visita, organizou percursos de transportes públicos especiais para servir os diferentes eventos em que o papa vai participar – nomeadamente a missa campal na sexta-feira, dia 06, no estádio do Zimpeto. A organização prevê que possam chegar a juntar-se 90 mil pessoas para o evento.

As eleições gerais de 15 de outubro vão eleger o novo parlamento e Presidente da República e, pela primeira vez, os governadores provinciais, que deixam de ser nomeados pelo poder central.

A mudança responde a uma reivindicação do principal partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), durante as negociações do acordo de paz assinado a 6 de agosto — reivindicação através da qual o partido aspira a ascender ao poder regional. O líder do principal partido da oposição é muçulmano, Ossufo Momade, enquanto o atual Presidente, Filipe Nyusi, e recandidato ao cargo é cristão.

A votação é encarada pela Renamo e por diversos analistas como o verdadeiro teste ao tratado de paz de 6 de agosto — o terceiro no país –, já que entendimentos anteriores têm caído por terra devido a violência pós-eleitoral, com recusa dos resultados depois de a oposição e observadores denunciarem indícios de fraude.