O novo filme de Roman Polanski, “J’Accuse”, despertou reações mistas na sexta-feira à noite no Festival de Veneza, entre elogios à qualidade da obra e críticas ao paralelismo traçado entre o filme e a vida do artista.

O realizador franco-polaco, de 86 anos, condenado nos Estados Unidos por abuso sexual de menores, não viajou até Veneza, onde a sua inclusão no festival de cinema italiano gerou controvérsia.

Na apresentação do filme esteve, contudo, a sua mulher, Emmanuelle Seigner, que atua no filme, acompanhada de Oscar Jean Dujardin, que interpreta a personagem central, o tenente-coronel Georges Picquart, e Louis Garrel, que dá vida a Alfred Dreyfus.

O filme retrata o caso Dreyfus – um escândalo político que dividiu a França entre 1894-1906 – do ponto de vista do tenente-coronel Georges Picquart, interpretado por um sóbrio e convincente Jean Dujardin. É um dos 21 filmes em competição pelo Leão de Ouro.

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As primeiras críticas elogiaram bastante as qualidades cinematográficas do filme: O jornal francês Le Figaro elevou o “ousado” Jean Dujardin, o jornal britânico The Guardian descreveu o filme como “bonito e envolvente” e a revista norte-americana Variety considerou a montagem “magnífica”.

Para o The Hollywood Reporter, por outro lado, a longa-metragem, apesar de “meticulosa”, “carece de emoção”, enquanto vários críticos têm expressado reservas sobre o paralelismo que Roman Polanski traça entre a história, a sua vida e o caso.

“Pode o polémico cineasta traçar paralelos entre a sua situação pessoal e este sólido relato do caso Dreyfus?”, questionou o The Guardian.

Também para a Variety “falta algo no filme, talvez porque o realizador pense que é sobre ele”, com o jornal a descrever como “obsceno” o paralelo traçado por Roman Polanski entre a sua situação e a história de Dreyfus, “um homem inocente”.

Em 1977, o cineasta reconheceu ter tido relações sexuais com Samantha Geimer, então com 13 anos. Em 2010, a atriz britânica Charlotte Lewis declarou que o realizador a tinha forçado a ter uma relação sexual quando ela tinha 16 anos.

Em 2017, o realizador foi acusado por duas outras mulheres: uma identificada como ‘Robin’ alega ter sido vítima de agressão sexual aos 16 anos, em 1973; Renate Langer assegura ter sido violada por Polanski quando tinha 15 anos.